1819 de João Ferreira de Almeida.

Mateus


Capítulo 1

1. Livro da geração de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão.
2. Abraão gerou a Isaque; e Isaque gerou a Jacó; e Jacó gerou a Judá, e a seus irmãos.
3. E Judá gerou de Tamar a Perez e a Zerá; e Perez gerou a Esrom, e Esrom gerou a Arão.
4. E Arão gerou a Aminadabe; e Aminadabe gerou a Nassom; e Nassom gerou a Salmom.
5. E Salmom gerou de Raabe a Boaz; e Boaz gerou de Rute a Obede; e Obede gerou a Jessé.
6. E Jessé gerou ao rei Davi; e o rei Davi gerou a Salomão da que [fora mulher] de Urias.
7. E Salomão gerou a Roboão; e Roboão gerou a Abias; e Abias gerou a Asa.
8. E Asa gerou a Josafá; e Josafá gerou a Jorão; e Jorão gerou a Uzias.
9. E Uzias gerou a Jotão; e Jotão gerou a Acaz; e Acaz gerou a Ezequias.
10. E Ezequias gerou a Manassés; e Manassés gerou a Amom; e Amom gerou a Josias.
11. E Josias gerou a Jeconias, e a seus irmãos no exílio babilônico.
12. E depois do exílio babilônico Jeconias gerou a Salatiel; e Salatiel gerou a Zorobabel.
13. E Zorobabel gerou a Abiúde; e Abiúde gerou a Eliaquim; e Eliaquim gerou a Azor.
14. E Azor gerou a Sadoque; e Sadoque gerou a Aquim; e Aquim gerou a Eliúde
15. E Eliúde gerou a Eleazar; e Eleazar gerou a Matã; e Matã gerou a Jacó.
16. E Jacó gerou a José, o marido de Maria, da qual nasceu Jesus chamado o Cristo.
17. De maneira que todas as gerações desde Abraão até Davi [são] catorze gerações; e desde Davi até o exílio babilônico catorze gerações; e desde o exílio babilônico até Cristo catorze gerações.
18. E o nascimento de Jesus Cristo foi assim: que estando Maria sua mãe desposada com José, antes que se ajuntassem, ela foi achada grávida do Espírito Santo.
19. Então José, seu marido, sendo justo, e não querendo a expor à infâmia, pensou em deixá-la secretamente.
20. E ele, pretendendo isto, eis que um anjo do Senhor lhe apareceu em sonho, dizendo:
 José, filho de Davi, não temas receber a Maria tua mulher, porque o que nela está concebido, é do Espírito Santo.
21. E ela fará nascer um filho, e tu chamarás seu nome Jesus; porque ele salvará a seu povo de seus pecados.
22. E tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito do Senhor pelo profeta, que disse:
23. Eis que a virgem conceberá, e fará nascer um filho, e chamarão seu nome Emanuel, que traduzido é: Deus conosco.
24. E despertando José do sonho, fez como o anjo do Senhor tinha lhe mandado, e recebeu a sua mulher.
25. E ele não a conheceu [corporalmente], até que ela fez nascer ao filho dela, o primogênito, e lhe pôs por nome JESUS.

Capítulo 2

1. E sendo Jesus já nascido em Belém da Judeia, nos dias do rei Herodes, eis que vieram uns sábios do Oriente a Jerusalém,
2. Dizendo:
 Onde está o Rei nascido dos Judeus? Porque vimos sua estrela no Oriente, e viemos para adorá-lo.
3. E o rei Herodes, ao ouvir [isto], ficou perturbado, e com ele toda Jerusalém.
4. E tendo reunido todos os chefes dos sacerdotes, e escribas do povo, perguntou-lhes onde o Cristo havia de nascer.
5. E eles lhe disseram:
 Em Belém de Judeia, porque assim está escrito pelo profeta:
6. E tu Belém, terra de Judá, em maneira nenhuma és a menor entre os governantes de Judá, porque de ti sairá o Guia, que apascentará a meu povo Israel.
7. Então Herodes, chamando secretamente aos sábios, informou-se detalhadamente deles [sobre] o tempo, [em] que a estrela tinha [lhes] aparecido.
8. E enviando-os a Belém, disse:
 Ide, e perguntai detalhadamente pelo menino, e quando o achardes, anunciai a mim, para que eu também venha, e o adore.
9. E eles, tendo ouvido ao Rei, foram embora. E eis que a estrela que tinham visto no Oriente, ia adiante deles, até que, ao chegarem, ficou parada sobre onde estava o menino.
10. E eles, ao verem a estrela, alegraram-se muito com grande alegria.
11. E entrando na casa, acharam ao menino, com sua mãe Maria, e prostrando-se o adoraram. E abrindo seus tesouros, ofereceram-lhe presentes: ouro, incenso, e mirra.
12. E sendo por divina revelação avisados em sonho que não voltassem a Herodes, partiram-se para sua terra por outro caminho.
13. E tendo eles partido, eis que um anjo do Senhor aparece a José em sonho, dizendo:
 Levanta-te, toma ao menino, e a sua mãe, e foge para o Egito; e fica lá até que eu te diga, porque Herodes irá buscar ao menino para o matar.
14. E ele, ao despertar, tomou ao menino e a mãe dele de noite, e foi para o Egito.
15. E esteve lá até a morte de Herodes, para que se cumprisse o que foi dito pelo Senhor falou por meio do profeta, que disse:
 Do Egito chamei a meu Filho.
16. Então Herodes, ao ver que tinha sido enganado pelos sábios, irritou-se muito, e mandou matar a todos os meninos em Belém, e em todos seus limites, de [idade de] dois anos, e abaixo, conforme o tempo que tinha perguntado detalhadamente dos sábios.
17. Então se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias, que disse:
18. Uma voz se ouviu em Ramá, lamentação, choro, e grande pranto; Raquel chorava seus filhos, e não quis ser consolada, pois já não existem.
{existem – lit. são}
19. Mas tendo Herodes morrido, eis que um anjo do Senhor aparece no Egito a José em sonho,
20. Dizendo:
 Levanta-te, toma ao menino e a sua mãe, e vai para a terra de Israel, porque já morreram os que procuravam a morte do menino.
21. Então ele se levantou, tomou ao menino e a sua mãe, e veio para a terra de Israel.
22. E ouvindo que Arquelau reinava na Judeia, em lugar de Herodes seu pai, ele teve medo de ir para lá; mas avisado por divina revelação em sonho, foi para as partes da Galileia.
23. E vindo [para ali], habitou na cidade chamada Nazaré, para que se cumprisse o que foi dito pelos profetas, que:
 Ele será chamado de Nazareno.

Capítulo 3

1. E naqueles dias veio João, o Batista, pregando no deserto da Judeia;
2. E dizendo:
 Arrependei-vos, porque é chegado o Reino dos céus.
3. Porque este é aquele, do qual foi dito pelo profeta Isaías, que disse:
 Voz do que clama no deserto:
 Preparai o caminho do Senhor; endireitai suas veredas.
4. E este João tinha sua roupa de peles de camelo, e um cinto de couro ao redor de sua cintura, e seu alimento era gafanhotos e mel do campo.
5. Então saíam até ele [pessoas de] Jerusalém, e [de] toda Judeia, e [de] toda a região ao redor do Jordão.
6. E foram por ele batizados no Jordão, confessando seus pecados.
7. E ele, tendo visto a muitos dos fariseus, e dos saduceus, que vinham a seu batismo, dizia-lhes:
 Raça de víboras, quem vos ensinou a fugir da ira que está para vir?
8. Dai pois frutos dignos de arrependimento.
9. E não façais suposições, dizendo em vós mesmos:
 Nós temos por pai a Abraão.
 Porque eu vos digo que até destas pedras Deus pode despertar filhos a Abraão.
10. E já agora está também o machado posto à raiz das árvores; portanto toda árvore que não dá bom fruto é cortada e lançada ao fogo.
11. Eu realmente vos batizo com água para arrependimento; mas aquele que vem após mim é mais poderoso do que eu, cujas sandálias não sou digno levar. Ele vos batizará com Espírito Santo e [com] fogo.
12. Cuja pá [ele tem] em sua mão, e limpará sua eira, e no celeiro recolherá seu trigo, e a palha queimará com fogo que nunca se apaga.
13. Então Jesus veio da Galileia até João ao Jordão, para ser batizado por ele.
14. Mas João lhe impedia, dizendo:
 Eu tenho necessidade de ser batizado por ti, e tu vens a mim?
15. Porém Jesus, respondendo, disse-lhe:
 Deixa por agora, porque assim nos convém cumprir toda justiça.
Então ele o deixou.
16. E Jesus, tendo sido batizado, subiu logo da água. E eis que os céus se lhe abriram, e ele viu ao Espírito de Deus descendo como pomba, e vindo sobre ele.
17. E eis uma voz dos céus, dizendo:
 Este é meu Filho amado, em quem me agrado.

Capítulo 4

1. Então Jesus foi levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo.
2. E tendo jejuado quarenta dias e quarenta noites, por fim teve fome.
3. E chegando-se a ele o tentador, disse:
 Se tu és [o] Filho de Deus, dize que estas pedras se façam pães.
4. Mas ele, respondendo, disse:
 Está escrito:
 Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que sai da boca de Deus.
5. Então o diabo o levou consigo à santa cidade, e o pôs sobre a ponta da torre do Templo.
6. E lhe disse:
 Se tu és [o] Filho de Deus, lança-te abaixo, porque está escrito que:
 A seus anjos mandará quanto a ti, e nas mãos te tomarão, para que nunca com teu pé tropeces em pedra alguma.
7. Jesus lhe disse:
 Também está escrito:
 Não tentarás ao Senhor teu Deus.
8. Outra vez o Diabo o levou consigo a um monte bem alto, e lhe mostrou todos os reinos do mundo, e a glória deles.
9. E lhe disse
 Tudo isto eu te darei, se prostrado me adorares.
10. Então Jesus disse:
 Vai longe Satanás, porque está escrito:
 Ao Senhor teu Deus adorarás, e somente a ele servirás.
11. Então o diabo o deixou; e eis que se chegaram os anjos, e o serviam.
12. Mas Jesus, ao ouvir que João estava preso, voltou para a Galileia.
13. E deixando a Nazaré, veio e habitou em Cafarnaum, [cidade] marítima, nos limites de Zebulom e Naftali,
14. Para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta Isaías, que disse:
15. A terra de Zebulom, e a terra de Naftali, [junto] ao caminho do mar, do outro lado do Jordão, a Galileia dos gentios;
16. O povo que estava sentado em trevas viu uma grande luz, e os sentados em região e sombra da morte, a luz lhes apareceu.
17. Desde então Jesus começou a pregar, e a dizer:
 Arrependei-vos, porque chegado é o Reino dos céus.
18. E Jesus, andando junto ao mar da Galileia, viu a dois irmãos: a Simão chamado Pedro, e a André seu irmão, que lançavam a rede ao mar, porque eram pescadores.
19. E disse-lhes:
 Vinde após mim, e eu vos farei pescadores de homens.
20. Então eles, deixando logo as redes, seguiram-no.
21. E passando dali, viu a outros dois irmãos: a Tiago [filho] de Zebedeu, e a João seu irmão, em [um] barco, com Zebedeu seu pai, que consertavam suas redes, e ele os chamou.
22. E eles, tendo deixado imediatamente ao barco e a seu pai, seguiram-no.
23. E Jesus passava ao redor de toda a Galileia, ensinando em suas sinagogas, e pregando o Evangelho do Reino, e curando toda enfermidade, e toda fraqueza entre o povo.
24. E sua fama corria por toda a Síria, e traziam-lhe a todos que estavam mal, tendo diversas enfermidades e tormentos, e aos endemoninhados, e lunáticos, e paralíticos; e ele os curava.
25. E o seguiam muitas multidões da Galileia, e de Decápolis, e de Jerusalém, e de Judeia, e dalém do Jordão.

Capítulo 5

1. E [Jesus], vendo as multidões, subiu a um monte; e sentando-se, chegaram-se a ele seus discípulos.
2. E ele, abrindo sua boca, ensinava-lhes, dizendo:
3. Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos céus.
{pobres em espírito – i.e., os humildes}
4. Bem-aventurados os tristes, porque eles serão consolados.
5. Bem-aventurados os mansos, porque eles herdarão a terra.
6. Bem-aventurados os que têm fome e sede [de] justiça, porque eles serão fartos.
7. Bem-aventurados os misericordiosos, porque eles alcançarão misericórdia.
8. Bem-aventurados os limpos de coração, porque eles verão a Deus.
9. Bem-aventurados os pacíficos, porque eles serão chamados filhos de Deus.
10. Bem-aventurados os que sofrem perseguição por causa da justiça, porque deles é o Reino dos céus.
11. Bem-aventurados sois vós, quando vos insultarem, e perseguirem, e falarem contra vós todo mal por minha causa, mentindo.
12. Agradai[-vos] bem, e alegrai[-vos], porque grande [é] vossa recompensa nos céus; porque assim perseguiram aos profetas, que [foram] antes de vós.
13. Vós sois o sal da terra; mas se o sal perder seu sabor, com que se salgará? Para nada mais presta, a não ser para se lançar fora, e ser pisado pelos homens.
14. Vós sois a luz do mundo; não se pode esconder a cidade fundada sobre o monte.
15. Nem se acende a lâmpada e se põe debaixo da caixa do alqueire, mas no suporte para lâmpadas, e ilumina a todos quantos [estão] em casa.
16. Assim brilhe a vossa luz diante dos homens, para que vejam vossas boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que [está] nos céus.
17. Não pensais que vim para desatar a Lei, ou os Profetas; não vim para [os] desatar, mas sim para [os] cumprir.
18. Porque em verdade vos digo, que até que passem o céu e a terra, nem um jota, nem um til se passará da Lei, até que tudo aconteça.
19. De maneira que qualquer que desatar um destes mais pequenos mandamentos, e assim ensinar aos homens, será chamado o menor no Reino dos céus; porém qualquer que [os] fizer e ensinar, esse será chamado grande no Reino dos céus.
20. Porque eu vos digo que, se vossa justiça não for maior que a dos Escribas e Fariseus, em maneira nenhuma entrareis no Reino dos céus.
21. Ouvistes o que foi dito aos antigos:
 Não matarás; mas qualquer que matar será réu do julgamento.
22. Mas eu vos digo que qualquer um que se irritar contra seu irmão sem razão, será réu do julgamento. E qualquer um que disser a seu irmão:
 Idiota!,
 será réu do supremo conselho. E qualquer que [lhe] disser:
 Louco!,
 será réu do fogo do inferno.
23. Portanto se trouxeres tua oferta ao altar, e ali te lembrares que teu irmão tem alguma coisa contra ti,
24. Deixa ali tua oferta diante do altar e vai, reconcilia-te primeiro com teu irmão, e então vem, e oferece tua oferta.
25. Entra em acordo depressa com teu adversário, enquanto estás com ele no caminho, para que o adversário não venha a te entregar ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial de justiça, e te lancem na prisão.
26. Em verdade te digo que em maneira nenhuma sairás dali, até que pagues o última [moeda de] ceitil.
27. Ouvistes o que foi dito aos antigos:
 Não adulterarás.
28. Mas eu vos digo que qualquer um que olhar para [alguma] mulher para a cobiçar, já adulterou com ela em seu coração.
29. [Portanto] se teu olho direito te faz pecar, arranca-o, e lança[-o] de ti; porque te é melhor que um de teus membros se perca, do que todo teu corpo seja lançado no inferno.
30. E se a tua mão direita te faz pecar, corta-a, e lança[-a] de ti; porque te é melhor que um de teus membros se perca, do que todo teu corpo seja lançado no inferno.
31. Também foi dito:
 Qualquer um que deixar sua mulher, dê-lhe carta de separação.
32. Porém eu vos digo que qualquer um que mandar sua mulher embora, a não ser por causa de [algum] pecado sexual, faz com que ela adultere; e qualquer um que se casar com a que foi mandada embora, adultera.
33. Além disso, ouvistes que foi dito aos antigos:
 Não jurarás falsamente, mas pagarás ao Senhor teus juramentos.
34. Porém eu vos digo que em maneira nenhuma jureis; nem pelo céu, porque é o trono de Deus;
35. Nem pela terra, porque é o suporte de seus pés; nem por Jerusalém, porque é a cidade do grande Rei.
36. Nem jurarás por tua cabeça, pois nem um cabelo podes fazer branco ou preto;
37. Mas seja vosso falar:
 Sim, sim, não, não;
 Porque o que passa disto procede do maligno.
38. Ouvistes o que foi dito:
 Olho por olho, e dente por dente.
39. Mas eu vos digo que não resistais ao mal; mas sim a qualquer um que te bater em tua face direita, vira-lhe também a outra.
40. E ao que quiser disputar contigo, e te tomar tua túnica, deixa-lhe também a capa.
41. E qualquer um que te obrigar a caminhar uma milha, vai com ele duas.
42. Dá a quem te pedir; e a quem de ti quiser tomar emprestado, não te desvies.
43. Ouvistes o que foi dito:
 Amarás a teu próximo, e odiarás a teu inimigo.
44. Porém eu vos digo: amai a vossos inimigos, bendizei aos que vos maldizem, fazei bem aos que vos odeiam, e orai pelos que vos maltratam e vos perseguem,
45. Para que sejais filhos de vosso Pai que [está] nos céus; porque ele faz que seu sol saia sobre maus e bons, e chova sobre justos e injustos.
46. Porque se vós amardes aos que vos amam, que recompensa tereis? Os cobradores de impostos também não fazem o mesmo?
47. E se somente saudardes a vossos irmãos, o que fazeis de mais? Os cobradores de impostos também não fazem assim?
48. Sede pois vós perfeitos, assim como vosso Pai que [está] nos céus é perfeito.

Capítulo 6

1. Ficai atentos de que não façais vossa esmola perante os homens, para que sejais vistos por eles; senão vós não tereis recompensa de vosso Pai que [está] nos céus.
2. Portanto quando fizeres esmola, não faças tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem honrados pelos homens; em verdade vos digo que eles já têm sua recompensa.
3. Mas quando tu fizeres esmola, não saiba tua [mão] esquerda o que faz a tua direita.
4. Para que tua esmola seja em segredo, e teu Pai que vê em segredo, ele te recompensará em público.
5. E quando tu orares, não sejas como os hipócritas; porque eles amam orar em pé nas sinagogas, e nos cantos das ruas, para serem vistos pelos homens. Em verdade vos digo que eles já têm sua recompensa.
6. Mas tu, quando orares, entra em teu quarto, e fechando tua porta, ora a teu Pai, que [está] em segredo, e teu Pai que vê em segredo, ele te recompensará em público.
7. E orando, não façais repetições inúteis como os gentios, que acham que por muito falar serão ouvidos.
8. Não vos façais pois semelhantes a eles; porque vosso Pai sabe o que vos é necessário, antes que vós peçais a ele.
9. Vós, portanto, orareis assim:
 Pai nosso, que [estás] nos céus, santificado seja o teu nome.
10. Venha o teu Reino. Seja feita a tua vontade também na terra, assim como no céu.
11. O pão nosso de cada dia nos dá hoje.
12. E perdoa-nos nossas dívidas, assim como nós também perdoamos aos nossos devedores.
13. E não nos conduzas à tentação, mas livra-nos do mal; porque teu é o Reino, e o poder, e a glória, para sempre, Amém.
14. Porque se aos homens perdoardes suas ofensas, também vosso Pai celestial vos perdoará a vós.
15. Mas se aos homens não perdoardes suas ofensas, também vosso Pai não vos perdoará vossas ofensas.
16. E quando jejuardes, não vos mostreis tristonhos, como os hipócritas; porque eles desfiguram seus rostos, para aos homens parecerem que jejuam. Em verdade vos digo que eles já têm sua recompensa.
17. Porém tu, quando jejuardes, unge tua cabeça, e lava teu rosto,
18. Para que aos homens não pareçais que jejuas, a não ser [somente] a teu Pai, que [está] em segredo; e teu Pai que vê em segredo, ele te recompensará em público.
19. Não junteis para vós tesouros na terra, onde e a traça e a ferrugem [tudo] gastam, e onde os ladrões invadem e roubam.
20. Mas juntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem gastam, e onde os ladrões não invadem nem roubam.
21. Porque onde estiver vosso tesouro, ali estará também vosso coração.
22. A lâmpada do corpo é o olho; portanto, se teu olho for puro, todo teu corpo será luminoso.
23. Porém se teu olho for maligno, todo teu corpo estará em trevas. Então, se a luz que há em ti são trevas, como são grandes [essas] trevas!
24. Ninguém pode servir a dois senhores; pois ou odiará a um, e amará ao outro; ou se chegará a um, e desprezará ao outro. Não podeis servir a Deus e à ganância por riquezas.
25. Portanto eu vos digo: não andeis ansiosos por vossa vida, que haveis de comer, ou que haveis de beber; nem por vosso corpo, com que vós haveis de vestir. Não é a vida mais que o alimento, e o corpo [mais] que a roupa?
26. Olhai para as aves do céu, que não semeiam, nem ceifam, nem juntam em celeiros; e [contudo] vosso Pai celestial as alimenta. Não sois vós muito melhores que elas?
27. Mas qual de vós poderá com [toda] sua ansiedade acrescentar um côvado à sua altura?
28. E pela roupa, porque andais ansiosos? Prestai atenção aos lírios do campo, como crescem; nem trabalham, nem fiam.
29. E eu vos digo que nem mesmo Salomão, em toda sua glória, se vestiu como um deles.
30. Pois se Deus assim veste a erva do campo, que hoje existe, e amanhã é lançada no forno, não vos [vestirá] muito mais a vós, [homens] de pouca fé?
31. Não andeis pois ansiosos, dizendo:
 Que comeremos? Ou que beberemos? Ou com que nos vestiremos?
32. Porque todas estas coisas os gentios buscam; pois vosso Pai celestial bem sabe que necessitais de todas estas coisas.
33. Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e sua justiça; e todas estas coisas vos serão acrescentadas.
34. Não andeis pois ansiosos pelo dia de amanhã; porque o amanhã terá cuidado de si mesmo. Basta a [cada] dia seu mal.

Capítulo 7

1. Não julgueis, para que não sejais julgados
2. Porque com o juízo que julgardes, sereis julgados; e com a medida que medirdes, vos voltarão a medir.
3. E porque tu observas o cisco que [está] no olho de teu irmão, e não enxergas a trave que [está] em teu olho?
4. Ou como tu dirás a teu irmão:
 Deixa-me tirar de teu olho o cisco;
 e eis que [há] uma trave em teu [próprio] olho?
5. Hipócrita, tira primeiro a trave de teu olho, e então verás claramente para tirar o cisco do olho de teu irmão.
6. Não deis as coisas santas aos cães, nem lanceis vossas pérolas diante dos porcos, para que eles não venham a pisá-las com seus pés, e virando-se, vos despedacem.
7. Pedi, e será vos dado; buscai, e achareis; batei, e será aberto a vós.
8. Porque qualquer que pede, recebe; e o que busca, acha; e ao que bate, lhe é aberto.
9. E qual de vós é o homem, que se seu filho pedir pão, lhe dará uma pedra?
10. E pedindo peixe, lhe dará uma serpente?
11. Pois se vós, sendo maus, sabeis dar bons presentes a vossos filhos, quanto mais dará vosso Pai, que [está] nos céus, bens aos que lhe pedirem!
12. Portanto tudo o que vós quiserdes que os homens vos façam, fazei-lhes vós também assim; porque esta é a Lei, e os Profetas.
13. Entrai pela porta estreita; porque larga [é] a porta, e espaçoso o caminho, que leva à perdição; e muitos são os que por ele entram.
14. Porque estreita [é] a porta, e apertado o caminho, que leva à vida; e são poucos os que o acham.
15. Mas tomai cuidado com os falsos profetas, que vêm a vós com roupas de ovelhas, mas por dentro são lobos vorazes.
16. Pelos seus frutos vós os reconhecereis. Por acaso se colhem uvas dos espinheiros, ou figos dos abrolhos?
17. Assim toda boa árvore dá bons frutos; mas a má arvore dá maus frutos.
18. A boa árvore não pode dar maus frutos; nem a má árvore dar bons frutos.
19. Toda árvore não dá bom fruto é cortada e lançada ao fogo.
20. Portanto pelos frutos deles vós os conhecereis.
21. Nem todo aquele que me diz:
 Senhor, Senhor,
 entrará no Reino dos céus; mas [somente] aquele que faz a vontade do meu Pai que [está] nos céus.
22. Muitos me dirão naquele dia:
 Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? E em teu nome expulsamos os demônios? E em teu nome fizemos muitas maravilhas?
23. E então claramente lhes direi:
 Nunca vos conheci; saí para longe de mim, praticantes de injustiça!
24. Portanto qualquer um que me ouve estas palavras, e as faz, eu o compararei ao homem prudente, que edificou sua casa sobre a rocha.
25. E desceu a chuva, e vieram rios, e sopraram ventos, e atingiram aquela casa, e não caiu, porque estava fundada sobre a rocha.
26. Mas qualquer um que me ouve estas palavras, e não as faz, eu o compararei ao homem tolo, que edificou sua casa sobre a areia.
27. E desceu a chuva, e vieram rios, e sopraram ventos, e atingiram aquela casa, e caiu, e foi grande sua queda.
28. E aconteceu que, acabando Jesus estas palavras, as multidões se admiraram de sua doutrina,
29. Porque ele os ensinava como tendo autoridade, e não como os escribas.

Capítulo 8

1. E ele, tendo descido do monte, muitas multidões o seguiram.
2. E eis que veio um leproso, e o adorou, dizendo:
 Senhor, se quiseres, bem tu podes me limpar.
3. E Jesus, estendendo a mão, tocou-o, dizendo:
 Eu quero, sê limpo;
e logo ele ficou limpo de sua lepra.
4. Então Jesus lhe disse:
 Olha para que digas a ninguém; mas vai, mostra-te ao sacerdote, e oferece a oferta que Moisés ordenou, para que lhes [haja] testemunho.
5. E Jesus, tendo entrado em Cafarnaum, veio [a ele] um centurião, rogando-lhe,
6. E dizendo:
 Senhor, o meu jovem servo jaz em casa paralítico, gravemente atormentado.
7. E Jesus lhe disse:
 Eu virei, e o curarei.
8. E respondendo o Centurião, disse:
 Senhor, não sou digno de que entres abaixo do meu telhado; mas dize somente uma palavra, e o meu jovem servo sarará.
9. Porque eu também sou homem debaixo de autoridade, e tenho debaixo de mim soldados; e digo a este:
 Vai,
 e ele vai; e ao outro:
 Vem,
 e vem; e a meu servo:
 Faze isto,
 e ele o faz.
10. E Jesus, ouvindo [isto], maravilhou-se, e disse aos que o seguiam:
 Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel achei tanta fé.
11. Mas eu vos digo, que muitos virão do oriente, e do ocidente, e se sentarão [à mesa] com Abraão, Isaque, e Jacó, no Reino dos céus.
12. E os filhos do reino serão lançados nas trevas exteriores; ali haverá o pranto, e o ranger de dentes.
13. Então Jesus disse ao Centurião:
 Vai, e assim como creste, te seja feito.
E naquela mesma hora o seu jovem servo sarou.
14. E Jesus, tendo vindo à casa de Pedro, viu sua sogra deitada e com febre.
15. E ele tocou a mão dela, e a febre a deixou; e ela se levantou, e os servia.
16. E quando chegava o anoitecer, trouxeram-lhe muitos endemoninhados, e expulsou-lhes os espíritos [malignos] com [sua] palavra, e curou a todos os que estavam [passando] mal;
17. Para que se cumprisse o que foi dito pelo Profeta Isaías, que disse:
 Ele tomou [sobre] si nossas enfermidades, e levou as nossas doenças.
18. E Jesus, ao ver muitas multidões ao redor de si, mandou que passassem para a outra margem.
19. E um escriba, tendo se aproximado, disse-lhe:
 Mestre, eu te seguirei aonde quer que tu fores.
20. E Jesus lhe disse:
 As raposas tem covis, e as aves do céu ninhos; mas o Filho do homem não tem onde encoste a cabeça.
21. E outro de seus discípulos lhe disse:
 Senhor, permite-me que vá primeiro e enterre a meu pai.
22. Porém Jesus lhe disse:
 Segue-me tu, e deixa aos mortos enterrar seus mortos.
23. E ele, tendo entrado no barco, seus discípulos o seguiram.
24. E eis que se levantou uma tormenta no mar tão grande que o barco era coberto pelas ondas; mas ele dormia.
25. E seus discípulos, aproximando-se, o acordaram, dizendo:
 Senhor, salva-nos! Estamos sendo destruídos!
26. E ele lhes disse:
 Por que sois medrosos, [homens] de pouca fé?
Então, levantando-se, repreendeu aos ventos e ao mar, e houve grande bonança.
27. E aqueles homens se maravilharam, dizendo:
 Quem é este, que até os ventos e o mar lhe obedecem?
28. E quando passou para a outra margem, para a terra dos Gergesenos, vieram-lhe ao encontro dois endemoninhados que tinham saído dos sepulcros, tão ferozes que ninguém podia passar por aquele caminho.
29. E eis que clamaram, dizendo:
 Que temos contigo, Jesus Filho de Deus? Vieste aqui para nos atormentar antes de tempo?
30. E havia uma manada de muitos porcos longe deles se alimentando.
31. E os demônios lhe suplicaram, dizendo:
 Se nos expulsares, permite-nos que entremos naquela manada de porcos.
32. E ele lhes disse:
 Ide.
E eles, ao saírem, entraram na manada dos porcos; e eis que toda aquela manada de porcos se jogou ao mar, e morreram nas águas.
33. E os porqueiros fugiram, e ao chegarem à cidade, falaram sobre todas [estas] coisas, e sobre os [que estavam] endemoninhados.
34. E eis que toda aquela cidade saiu ao encontro de Jesus, e quando o viram, rogaram-lhe que se retirasse dos limites [do território] deles.

Capítulo 9

1. E entrando no barco, passou para a outra margem, e veio a sua própria cidade. E eis que lhe trouxeram um paralítico, deitado em uma cama.
2. E Jesus, tendo visto a fé deles, disse ao paralítico:
 Tem bom ânimo, filho, teus pecados te são perdoados.
3. E eis que alguns dos escribas diziam entre si:
 Este blasfema.
4. E vendo Jesus seus pensamentos, disse:
 Por que pensais mal em vossos corações?
5. Porque o que é mais fácil dizer:
 [Teus] pecados te são perdoados?
 Ou dizer:
 Levanta-te, e anda?
6. E para que saibais que o Filho do homem tem autoridade na terra para perdoar os pecados, (Ele então disse ao paralítico):
 Levanta-te, toma tua leito, e vai para tua casa.
7. E tendo se levantando, foi para sua casa.
8. E as multidões, tendo visto [isto], maravilharam-se, e glorificaram a Deus, que tal autoridade tivesse dado aos homens.
9. E Jesus, passando dali, viu a um homem sentado na coletoria de impostos, chamado Mateus; e disse-lhe:
 Segue-me.
E ele, levantando-se, o seguiu.
10. E aconteceu que, estando ele sentado [à mesa] na casa, eis que vieram muitos cobradores de impostos e pecadores, e se sentaram juntamente [à mesa] com Jesus e seus discípulos.
11. E os fariseus, tendo visto [isto], disseram a seus discípulos:
 Por que vosso Mestre come com cobradores de impostos e pecadores?
12. Porém Jesus, ao ouvir [a pergunta], disse-lhes:
 Os que estão sãos não necessitam de médico, mas sim os que estão doentes.
13. Mas ide, e aprendei que coisa é:
 Quero misericórdia, e não sacrifício.
 Porque eu não vim para chamar justos, mas sim pecadores ao arrependimento.
14. Então vieram a ele os discípulos de João, dizendo:
 Por que nós e os fariseus jejuamos muitas vezes, mas teus discípulos não jejuam?
15. E Jesus lhes disse:
 Por acaso podem os convidados do casamento andar tristes enquanto o noivo está com eles? Mas dias virão, quando o noivo lhes for tirado, e então jejuarão.
16. E ninguém põe remendo de pano novo em roupa velha; porque tal remendo rasga a roupa, e o rasgo se torna pior.
17. Nem põem vinho novo em odres velhos; pois senão os odres se rompem, o vinho se derrama, e os odres se perdem; mas põem o vinho novo em odres novos, e ambos juntamente se conservam.
18. Enquanto ele lhes dizia estas coisas, eis que veio um chefe [de sinagoga] e o adorou, dizendo:
 Minha filha faleceu ainda agora; mas vem, e põe tua mão sobre ela, e ela viverá.
19. E Jesus, tendo se levantado, seguiu-o com seus discípulos.
20. (E eis que uma mulher enferma de um fluxo de sangue havia doze anos, vindo por detrás [dele], tocou a borda de sua roupa.
21. Porque dizia consigo mesma:
 Se eu tão somente tocar a roupa dele, ficarei saudável.
22. E Jesus, virando-se e a vendo, disse:
 Tem bom ânimo, filha, tua fé te curou.
E desde aquela mesma hora a mulher ficou com saúde.)
23. E Jesus, tendo vindo à casa daquele chefe, e vendo os tocadores de flauta e a multidão que fazia tumulto,
24. Disse-lhes:
 Retirai-vos, porque a menina não morreu; mas está dormindo.
E riram dele.
25. E quando a multidão foi tirada daquele lugar, ele entrou, pegou a mão dela, e a menina se levantou.
26. E esta notícia se espalhou por toda aquela terra.
27. E Jesus, ao sair dali, dois cegos o seguiram, clamando e dizendo:
 Tem compaixão de nós, Filho de Davi!
28. E ele, vindo para casa, os cegos vieram até ele. E Jesus lhes disse:
 Credes vós que posso fazer isto?
Eles lhe disseram:
 Sim, Senhor.
29. Então lhes tocou os olhos, dizendo:
 Conforme a vossa fé seja vos feito.
30. E os olhos deles se abriram. E Jesus os advertiu severamente, dizendo:
 Observai para que ninguém saiba [disso].
31. Porém eles, tendo saído, divulgaram [esta] notícia sobre ele por toda aquela terra.
32. E tendo eles saído, eis que lhe trouxeram um homem mudo e endemoninhado.
33. E quando o demônio foi lançado fora, o mudo passou a falar; e as multidões se maravilharam, dizendo:
 Nunca se viu algo assim em Israel!
34. Mas os fariseus diziam:
 Ele expulsa os demônios pelo chefe dos demônios.
35. E Jesus percorria todas as cidades e aldeias, ensinando em suas sinagogas, e pregando o Evangelho do Reino, e curando toda enfermidade e toda doença entre o povo.
36. E ele, ao ver as multidões, comoveu-se com delas, porque andavam fracas e dispersas, como ovelhas que não têm pastor.
37. Então Jesus disse a seus discípulos:
 Verdadeiramente a ceifa é grande, porém os trabalhadores são poucos.
38. Portanto orai ao Senhor da ceifa, para que envie trabalhadores à sua ceifa.

Capítulo 10

1. E chamando a si seus doze discípulos, deu-lhes poder sobre os espíritos imundos, para os expulsarem, e curarem toda doença e todo mal.
2. E os nomes dos doze apóstolos são estes: o primeiro, Simão, chamado Pedro, e André seu irmão; Tiago [filho] de Zebedeu, e João seu irmão.
3. Filipe e Bartolomeu; Tomé, e Mateus o cobrador de impostos; Tiago [filho] de Alfeu; e Lebeu, por sobrenome Tadeu.
4. Simão cananeu, e Judas Iscariotes, o mesmo que o entregou.
5. Jesus enviou a estes doze, e lhes mandou, dizendo:
 Não ireis pelo caminho dos gentios, nem entrareis em cidade de samaritanos.
6. Mas em vez disso, ide às ovelhas perdidas da casa de Israel.
7. E quando forem, pregai, dizendo:
 Chegado é o Reino dos céus.
8. Curai aos doentes, limpai aos leprosos, ressuscitai aos mortos, expulsai os demônios; recebestes de graça, dai de graça.
9. Não possuais ouro, nem prata, nem [dinheiro de] cobre em vossas cintas.
10. Nem bolsas para o caminho, nem duas túnicas, nem sandálias, nem bastões; pois o trabalhador é digno de seu alimento.
11. E em qualquer cidade ou aldeia que entrardes, informai-vos de quem nela seja digno, e ficai ali até que saiais.
12. E quando entrardes em [alguma] casa, saudai-a.
13. E se a casa for digna, venha sobre ela vossa paz; mas se ela não for digna, volte vossa paz a vós.
14. E qualquer um que não vos receber, nem ouvir vossas palavras, ao sairdes daquela casa ou cidade, sacudi o pó de vossos pés.
15. Em verdade vos digo que será mais tolerável para [os da] terra de Sodoma e Gomorra no dia do julgamento, do que para [os] daquela cidade.
16. Eis que eu vos envio como a ovelhas em meio dos lobos; portanto sede prudentes como serpentes, e inofensivos como pombas.
17. Mas tende cuidado com os homens; porque vos entregarão em tribunais, e vos açoitarão em suas sinagogas.
18. E até perante governadores e reis sereis levados por causa de mim, para que a eles e aos gentios lhes haja testemunho.
19. Mas quando vos entregarem, não estejais ansiosos de como ou que falareis; porque naquela mesma hora vos será dado o que deveis falar.
20. Porque não sois vós os que falais, mas sim o Espírito de vosso Pai que fala em vós.
21. E o irmão entregará à morte ao irmão, e o pai ao filho; e os filhos se levantarão contra os pais, e os matarão.
22. E sereis odiados por todos por causa de meu nome; mas aquele que perseverar até o fim, esse será salvo.
23. Quando então vos perseguirem nesta cidade, fugi para outra; porque em verdade vos digo, que não acabareis de [percorrer] as cidades de Israel, até que venha o Filho do homem.
24. O discípulo não é maior que o mestre, nem o servo maior que seu senhor.
25. Seja o suficiente ao discípulo ser como seu mestre, e ao servo como seu senhor; se ao chefe da casa chamaram de Belzebu, quanto mais os participantes de sua casa?
26. Portanto não os temais; porque nada há encoberto, que se não haja de descobrir; e [nada] escondido, que não haja de se saber.
27. O que eu vos digo em trevas, dizei na luz; e o que ouvirdes ao ouvido, proclamai sobre os telhados.
28. E não temais os que matam o corpo, e não podem matar a alma; temei antes a aquele que pode destruir tanto a alma como o corpo no inferno.
29. Não se vendem dois passarinhos por uma moeda de ceitil? e nem um deles cairá em terra sem [a vontade de] vosso Pai.
30. E até os cabelos de vossas cabeças estão todos contados.
31. Portanto não tenhais medo; mais valeis vós que muitos passarinhos.
32. Portanto qualquer um que me confessar diante dos homens, também eu o confessarei diante de meu Pai, que [está] nos céus.
33. Porém qualquer um que me negar diante dos homens, também eu o negarei diante de meu Pai, que [está] nos céus.
34. Não penseis que vim para trazer paz na terra; não vim para trazer paz, mas sim espada.
35. Porque eu vim para pôr em discórdia o homem contra seu pai, e a filha contra sua mãe, e a nora contra sua sogra.
36. E os inimigos do homem [serão] os de sua [própria] casa.
37. Quem ama pai ou mãe mais que a mim não é digno de mim; e quem ama filho ou filha mais que a mim não é digno de mim.
38. E quem não toma sua cruz e segue após mim não é digno de mim.
39. Quem achar sua vida a perderá; e quem perder sua vida por causa de mim a achará.
40. Quem vos recebe, recebe a mim; e quem recebe a mim, recebe a aquele que me enviou.
41. Quem recebe um profeta por reconhecê-lo como profeta receberá recompensa de profeta; e quem recebe um justo por reconhecê-lo como justo receberá recompensa de justo.
{por reconhecê-lo: lit. em nome de – também v. 42}
42. E qualquer um que der [ainda que] somente um pequeno vaso de [água] fria a um destes pequenos por reconhecê-lo como discípulo, em verdade vos digo, que de jeito nenhum perderá sua recompensa.

Capítulo 11

1. E sucedeu que, tendo Jesus acabado de dar mandamentos a seus doze discípulos, partiu dali para ensinar e para pregar nas suas cidades.
2. E João, ao ouvir na prisão as obras de Cristo, enviou[-lhe] dois de seus discípulos,
3. Dizendo-lhe:
 És tu aquele que havia de vir, ou esperamos a outro?
4. E Jesus respondendo, disse-lhes:
 Ide e voltai para anunciar a João as coisas que ouvis e vedes:
5. Os cegos veem, e os mancos andam; os leprosos são limpos, e os surdos ouvem; os mortos são ressuscitados, e aos pobres é anunciado o Evangelho.
6. E bem-aventurado é aquele que não se ofender em mim.
7. E tendo eles ido, Jesus começou a dizer às multidões sobre João:
 Que saístes ao deserto para ver? Uma cana que se abala com o vento?
8. Mas que saístes para ver? Um homem vestido com roupas delicadas? Eis que os que usam [roupas] delicadas estão nas casas dos reis.
9. Mas que saístes para ver? Um profeta? Sim, eu vos digo, e muito mais que um profeta;
10. Porque este é aquele sobre o qual está escrito:
 Eis que diante de tua face envio a meu mensageiro, que preparará teu caminho adiante de ti.
11. Em verdade vos digo, que dentre os nascidos de mulheres, não se levantou [outro] maior que João o Batista; porém o menor no Reino dos céus é maior que ele.
12. E desde os dias de João o Batista até agora, o Reino dos céus é forçado, e os violentos o invadem.
13. Porque todos os profetas e a Lei profetizaram até João.
14. E se estais dispostos a receber, este é o Elias que havia de vir.
15. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
16. Mas com quem compararei esta geração? Semelhante é aos meninos que se sentam nas praças, e chamam a seus companheiros,
17. E dizem:
 Tocamos flauta para vós, e não dançastes; cantamos lamentações para vós, e não chorastes.
18. Porque João veio, nem comendo, nem bebendo, e dizem:
 Ele tem demônio.
19. Veio o Filho do homem, comendo e bebendo, e dizem:
 Eis um homem comilão e beberrão, amigo de cobradores de impostos e pecadores; mas a sabedoria foi justificada por seus filhos.
20. Então ele começou a acusar as cidades em que a maioria de seus milagres foram feitos, que não tinham se arrependido, [dizendo]:
21. Ai de ti Corazim! Ai de ti Betsaida! Porque se em Tiro e em Sídon tivessem sido feitos os milagres que foram feitos em vós, há muito que teriam se arrependido com saco e com cinza.
22. Porém eu vos digo que mais tolerável será para Tiro e Sídon, no dia do juízo, que para vós.
23. E tu, Cafarnaum, que [pensas que] estás levantada até o céu, serás derrubada até o mundo dos mortos! Porque se em Sodoma tivessem sido feitos os milagres que foram feitos em ti, teriam permanecido até o dia de hoje.
24. Porém eu vos digo que mais tolerável será para os de Sodoma, no dia de juízo, que para ti.
25. Naquele tempo Jesus, respondendo, disse:
 Graças te dou, Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e entendidos, e as revelaste aos meninos.
26. Sim, Pai, porque assim te agradou em teus olhos.
27. Todas as coisas me foram entregues pelo meu Pai; e ninguém conhece ao Filho, a não ser o Pai; nem ninguém conhece ao Pai, a não ser o Filho, e a quem o Filho quiser [o] revelar.
28. Vinde a mim todos os que estais cansados, e carregados, e eu vos farei descansar.
29. Tomai sobre vós meu jugo, e aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração; e achareis descanso para vossas almas.
30. Porque o meu jugo é suave, e minha carga é leve.

Capítulo 12

1. Naquele tempo Jesus estava indo pelas plantações de cereais no sábado; e seus discípulos tinham fome, e começaram a arrancar espigas, e a comer.
2. E os fariseus, ao verem, lhe disseram:
 Eis que teus discípulos fazem o que não é lícito fazer no sábado.
3. Porém ele lhes disse:
 Não tendes lido o que Davi fez, quando teve fome, ele e os [estavam] que com ele?
4. Como ele entrou na casa de Deus, e comeu os pães da proposição, que a ele não era lícito comer, nem também aos que [estavam] com ele, a não ser somente aos sacerdotes?
5. Ou não tendes lido na Lei, que nos sábados, os sacerdotes no Templo profanam o sábado, e ficam sem culpa alguma?
6. Porém eu vos digo que [o] maior que o Tempo está aqui.
7. Mas se vós soubésseis que coisa é:
 Quero misericórdia, e não sacrifício,
 Não condenaríeis aos inocentes.
8. Porque o Filho do homem é Senhor até mesmo do sábado.
9. E partindo dali, entrou na sinagoga deles.
10. E eis que havia ali um homem que tinha uma mão seca; e eles, para o acusarem, perguntaram-lhe, dizendo:
 É lícito curar nos sábados?
11. E ele lhes disse:
 Qual homem de vós haverá, que tenha uma ovelha, e se a tal cair em uma cova no sábado, não a pegue, e a levante?
12. Pois quanto mais vale um homem que uma ovelha? Portanto é lícito fazer bem nos sábados.
13. Então disse para aquele homem:
 Estende tua mão;
e ele a estendeu, e foi-lhe restituída sã como a outra.
14. E os fariseus, tendo saído, reuniram-se para tramarem contra ele, sobre como o matariam.
15. Mas Jesus, sabendo [disso], retirou-se dali; e muitas multidões o seguiram, e ele curou a todos.
16. E os advertia, para que não espalhassem notícias sobre ele.
17. Para que se cumprisse o que foi declarado pelo profeta Isaías, que disse:
18. Eis aqui meu servo a quem escolhi, meu amado em quem minha alma se agrada; sobre ele porei meu Espírito, e anunciará julgamento às nações.
19. Ele não brigará, nem gritará; nem ninguém sua ouvirá voz pelas ruas.
20. A cana esmagada ele não despedaçará, e o pavio que fumega não apagará, até que conduza o julgamento à vitória.
21. E em seu nome as nações esperarão.
22. Então lhe trouxeram um endemoninhado cego e mudo; e ele o curou de tal maneira que o cego e mudo falava e via.
23. E todas as multidões se admiravam e diziam:
 Não é este o Filho de Davi?
24. Mas os fariseus, ao ouvirem, diziam:
 Este não expulsaria os demônios, se não fosse por Belzebu, o chefe dos demônios.
25. Porém Jesus, conhecendo os pensamentos deles, disse-lhes:
 Todo reino contra si mesmo é destruído; e toda cidade, ou casa, dividida contra si mesma, não permanecerá.
26. E se Satanás expulsa a Satanás, contra si mesmo está dividido; como então seu reino continuará?
27. E se eu expulso os demônios por Belzebu, então por quem vossos filhos os expulsam? Por isso, eles serão vossos juízes.
28. Mas se eu pelo Espírito de Deus expulso os demônios, então já chegou até vos o Reino de Deus.
29. Ou como pode alguém entrar na casa do valente, e saquear seus bens, se primeiro não amarrar ao valente? E então saqueará sua casa.
30. Quem não é comigo é contra mim; e quem não junta comigo, espalha.
31. Portanto eu vos digo: todo pecado e blasfêmia será perdoado aos homens; mas a blasfêmia contra o Espírito não será perdoada aos homens.
32. E qualquer um que falar palavra contra o Filho do homem, lhe será perdoado; mas qualquer que falar contra o Espírito Santo, não lhe será perdoado, nem nestes tempos, nem nos que virão.
33. Ou fazei a árvore boa, e seu fruto bom; ou fazei a árvore má, e seu fruto mau; porque pelo fruto se conhece a árvore.
34. Raça de víboras, como podeis vós falar boas coisas, sendo maus? Porque da abundância do coração a boca fala.
35. O bom homem tira boas coisas do bom tesouro do coração, e o mau homem do mau tesouro tira más coisas.
36. Mas eu vos digo que, de toda palavra inútil que os homens falarem, dela darão conta no dia do juízo.
37. Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado.
38. Então responderam uns dos Escribas e dos Fariseus, dizendo:
 Mestre, queremos ver de ti algum sinal.
39. Mas ele respondeu, e disse-lhes:
 Uma geração má e adúltera pede sinal; mas não será lhes dado, a não ser o sinal do profeta Jonas.
40. Porque assim como Jonas esteve três dias e três noites no ventre da baleia, assim também o Filho do homem estará três dias e três noites no coração da terra.
41. Os de Nínive se levantarão em juízo com esta geração, e a condenarão; porque se arrependeram com a pregação de Jonas. E eis que [o] maior que Jonas está aqui.
42. A rainha do sul se levantará em juízo com esta geração, e a condenará; porque veio dos fins da terra para ouvir a sabedoria de Salomão. E eis que [o] maior que Salomão está aqui.
43. E quando o espírito imundo sai do homem, ele anda por lugares secos buscando repouso e não o acha.
44. Então diz:
 Voltarei para minha casa de onde saí. E vindo, a acha desocupada, varrida, e adornada.
45. Então vai, e toma consigo outros sete espíritos piores que ele; eles entram, [e], moram ali; e as últimas coisas de tal homem se tornam piores que as primeiras. Assim também acontecerá a esta geração má.
46. E estando ele ainda falando às multidões, eis que sua mãe e seus irmãos estava fora, querendo falar com ele.
47. E alguém lhe disse:
 Eis que estão fora tua mãe e teus irmãos, querendo falar contigo.
48. Porém ele, respondendo, disse ao que lhe avisou:
 Quem é minha mãe? E quem são meus irmãos?
49. E estendendo sua mão sobre seus discípulos, disse:
 Eis aqui minha mãe e meus irmãos;
50. Porque qualquer um que fizer a vontade de meu Pai, que [está] nos céus, esse é meu irmão, e irmã, e mãe.

Capítulo 13

1. E Jesus, tendo saído da casa aquele dia, sentou-se junto ao mar;
2. E chegaram-se a ele tantas multidões, que ele entrou num barco, [e ali] se sentou; e toda a multidão ficou na praia,
3. E ele lhes falou muitas coisas por parábolas, dizendo:
 Eis que o semeador saiu para semear.
4. E enquanto ele semeava, caiu uma parte [da semente] junto ao caminho, e vieram as aves e a comeram.
5. E outra [parte] caiu entre pedras, onde não tinha muita terra, e logo nasceu, porque não tinha terra funda.
6. Mas saindo o sol, queimou-se; e por não ter raiz, secou-se.
7. E outra [parte] caiu em espinhos, e os espinhos cresceram e a sufocaram.
8. E outra [parte] caiu em boa terra, e deu fruto, um cem, outro sessenta, e outro trinta.
9. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
10. E chegando-se a ele os discípulos, disseram-lhe:
 Por que lhes falas por parábolas?
11. E ele, respondendo, disse-lhes:
 Porque a vós é dado saber os mistérios do Reino dos céus, mas a eles não lhes é dado.
12. Porque a quem tem, lhe será dado, e terá em abundância; mas a quem não tem, até aquilo que tem lhe será tirado.
13. Por isso lhes falo por parábolas; porque vendo, não veem; e ouvindo, não ouvem, nem entendem.
14. E neles se cumpre a profecia de Isaías, que diz:
 De ouvido ouvireis e não entendereis, e vendo, vereis e não enxergareis.
15. Porque o coração deste povo está engrossado, e pesadamente dos ouvidos ouviram; e seus olhos fecharam; para que seus olhos não vejam, nem seus ouvidos ouçam, nem seus corações entendam, [para que] não se arrependam, e eu não os cure.
16. Mas bem-aventurados [são] vossos olhos, porque veem; e vossos ouvidos, porque ouvem.
17. Porque em verdade vos digo, que muitos profetas e justos desejaram ver o que vós vedes, e não viram; e ouvir o que vós ouvis, e não ouviram.
18. Ouvi pois vós a parábola do semeador:
19. Quando alguém ouve a palavra do Reino e não a entende, o maligno vem e arranca o que foi semeado em seu coração; este é o que foi semeado junto ao caminho.
20. E o que foi semeado entre pedras, este é o que ouve a palavra e logo a recebe com alegria.
21. Porém não tem raiz em si mesmo, e dura pouco; e quando vem a aflição ou a perseguição pela palavra, logo se ofende.
22. E o que foi semeado em espinhos, este é o que ouve a palavra, mas a ansiedade deste mundo, e o engano das riquezas sufocam a palavra, e fica sem fruto.
23. Mas o que foi semeado em boa terra, este é o que ouve e entende a palavra, e o que dá e produz fruto, um cem, e outro sessenta, e outro trinta.
24. E ele lhes declarou outra parábola, dizendo:
 O Reino dos céus é semelhante a um homem que semeia boa semente em seu campo,
25. E enquanto os homens estavam dormindo, o inimigo dele veio, semeou joio, e foi embora.
26. E quando a erva cresceu, e produziu fruto, então apareceu também o joio.
27. E chegando-se os servos do Dono da propriedade, disseram-lhe:
 Senhor, não semeaste boa semente em teu campo? De onde então veio o joio?
28. E ele lhes disse:
 O homem inimigo fez isto.
 E os servos lhe disseram:
 Queres pois que vamos e o colhemos?
29. Porém ele lhes disse:
 Não, para que, quando colherdes o joio, não venhais a arrancar também o trigo com ele.
30. Deixai-os crescer ambos juntos até a ceifa; e ao tempo da ceifa direi aos ceifeiros: Colhei primeiro o joio, e atai-o em molhos, para o queimar; mas ao trigo juntai no meu celeiro.
31. Ele lhes declarou outra parábola:
 O Reino dos céus é semelhante ao grão da mostarda, que o homem, tomando-o, semeou-o em seu campo.
32. O qual, em verdade, é a menor de todas as sementes; mas quando cresce, é a maior das hortaliças; e faz-se [tamanha] árvore, que as aves do céu vêm e se aninham em seus ramos.
33. Ele lhes disse outra parábola:
 O Reino dos céus é semelhante ao fermento, que a mulher, tomando-o, esconde-o em três medidas de farinha, até que tudo esteja levedado.
34. Tudo isto Jesus falou por parábolas às multidões, e sem parábolas não lhes falava.
35. Para que se cumprisse o que foi declarado pelo profeta, que disse:
 Em parábolas abrirei minha boca; pronunciarei coisas escondidas desde a fundação do mundo.
36. Então Jesus, tendo despedido as multidões, foi-se para casa. E chegaram-se seus discípulos a ele, dizendo:
 Explica-nos a parábola do joio do campo.
37. E ele, respondendo, disse-lhes:
 O que semeia a boa semente é o Filho do homem.
38. E o campo é o mundo; e a boa semente, estes são os filhos do Reino; e o joio são os filhos do maligno;
39. E o inimigo, que a semeou, é o diabo; e a ceifa é o fim dos tempos; e os ceifeiros são os anjos.
40. De maneira que, assim como o joio é colhido e queimado a fogo; assim também será no fim deste mundo.
41. O Filho do homem mandará a seus anjos, e ele colherão todas as ofensas de seu Reino, e aos que fazem injustiça;
42. E os lançarão ao forno de fogo; ali haverá o pranto e o ranger de dentes.
43. Então os justos brilharão como o sol no Reino de seu Pai. Quem tem ouvidos para ouvir, ouça.
44. Também semelhante é o Reino dos céus ao tesouro escondido num campo, que o homem, tendo o achado, escondeu-o; e por sua alegria, vai, e vende tudo quanto tem, e compra aquele campo.
45. Também semelhante é o Reino dos céus ao homem negociante, que busca boas pérolas.
46. Que tendo achado uma pérola de grande valor, foi, e vendeu tudo quanto tinha, e a comprou.
47. Também semelhante é o Reino dos céus à rede lançada no mar, e que colhe todo tipo [de peixes],
48. Que estando cheia, [os pescadores] a puxam à praia; e sentando-se, colhem o bom em [seus] vasos, porém o ruim lançam fora.
49. Assim será quando os tempos completarem seu fim; os anjos sairão, e separarão os maus dentre os justos;
50. E os lançarão no forno de fogo; ali haverá o choro e o ranger de dentes.
51. E Jesus lhes disse:
 Entendestes todas estas coisas?
Disseram-lhe eles:
 Sim Senhor.
52. E ele lhes disse:
 Portanto todo escriba instruído no Reino dos céus é semelhante a um chefe de casa, que de seu tesouro tira coisas novas e velhas.
53. E aconteceu que, acabando Jesus estas parábolas, retirou-se dali.
54. E vindo à sua terra, ensinava-os na sinagoga deles, de tal maneira que se admiravam, e diziam:
 De onde [lhe vem] esta sabedoria, e estes milagres?
55. Não é este o filho do carpinteiro? E não se chama sua mãe Maria? E seus irmãos Tiago, e José, e Simão, e Judas?
56. E não estão todas suas irmãs conosco? donde [lhe vem] logo a este tudo isto?
57. E se ofendiam nele. Mas Jesus lhes disse:
 Não há profeta sem honra, a não ser em sua terra, e em sua casa.
58. E não fez ali muitas maravilhas por causa de sua incredulidade deles.

Capítulo 14

1. Naquele tempo Herodes, o Tetrarca, ouviu a fama de Jesus.
2. E disse a seus servos:
 Este é João Batista; ele ressuscitou dos mortos, e por isso operam nele estes milagres.
3. Porque Herodes tinha prendido a João, e o atado, e posto na prisão, por causa de Herodias, mulher de seu irmão Filipe.
4. Porque João lhe dizia:
 Não é lícito tê-la para ti.
5. E querendo matá-lo, tinha medo do povo, porque o consideravam como profeta.
6. Porém ao ser celebrando o dia do nascimento de Herodes, a filha de Herodias dançou no meio, e agradou a Herodes.
7. Pelo que com juramento lhe prometeu de dar tudo o que pedisse;
8. E ela, tendo sido instruída primeiro por sua mãe, disse:
 Dá-me aqui num prato a cabeça de João Batista.
9. E o rei se entristeceu; mas pelo juramento, e pelos que [com ele] estavam [à mesa], mandou que fosse dado [a ela].
10. E ele mandou degolarem a João na prisão.
11. E sua cabeça foi trazida em um prato, e dada à menina; e ela a levou a sua mãe.
12. E seus discípulos vieram, e tomaram o corpo, e o enterraram; e foram, e o anunciaram a Jesus.
13. E Jesus, tendo ouvido, retirou-se dali em um barco, a um lugar deserto à parte; e as multidões, ao ouvirem, seguiram-no a pé das cidades.
14. E quando Jesus saiu, viu uma grande multidão, e comoveu-se com eles; e curou aos enfermos dentre eles.
15. E chegando o entardecer, chegaram-se a ele seus discípulos, dizendo:
 O lugar é deserto, e o tempo é já passado; despede as multidões, para que se vão pelas aldeias, e comprem para si de comer.
16. Mas Jesus lhes disse:
 Não tem necessidade de irem; dai-lhes vós de comer.
17. Porém eles lhe disseram:
 Nada temos aqui além de cinco pães e dois peixes.
18. E ele disse:
 Trazei-os a mim aqui.
19. E mandando às multidões que se sentassem sobre a grama, e tomando os cinco pães e os dois peixes, e levantando os olhos ao céu, abençoou[-os]; e partindo os pães, deu-os aos discípulos, e os discípulos às multidões;
20. E comeram todos, e fartaram-se. E levantaram do que sobrou dos pedaços, doze cestos cheios.
21. E os que comeram foram quase cinco mil homens, sem contar as mulheres e as crianças.
22. E logo Jesus fez entrar no barco a seus discípulos, e [mandou] que fossem adiante dele para a outra margem, enquanto que despedia as multidões.
23. E tendo despedido as multidões, subiu ao monte à parte para orar. E chegada já a noite, ele estava ali sozinho.
24. E o barco já estava no meio do mar atormentado pelas ondas, porque o vento era contrário.
25. Mas à quarta vigília da noite Jesus foi até eles, andando sobre o mar.
26. E os discípulos vendo-o andar sobre o mar, perturbaram-se, dizendo:
 É um fantasma!,
E deram gritos de medo.
27. Mas Jesus logo lhes falou, dizendo:
 Tende bom ânimo, sou eu, não tenhais medo.
28. E Pedro lhe respondeu, e disse:
 Senhor, se és tu, manda-me vir a ti sobre as águas.
29. E ele disse:
 Vem.
E Pedro, descendo do barco, andou sobre as águas, para vir a Jesus.
30. Mas vendo o vento forte, temeu; e começando a afundar, clamou, dizendo:
 Senhor, salva-me.
31. E Jesus, estendendo logo a mão, pegou-lhe, e disse-lhe:
 [Homem] de pouca fé, por que duvidaste?
32. E quando subiram no barco, o vento se aquietou.
33. Então vieram os que estavam no barco, e o adoraram, dizendo:
 Verdadeiramente tu és Filho de Deus.
34. E passando para a outra margem, vieram à terra de Genesaré.
35. E quando os homens daquele lugar o reconheceram, enviaram por toda aquela terra ao redor, e trouxeram-lhe todos os que passavam mal.
36. E suplicavam-lhe, que somente tocassem a borda de sua roupa; e todos os que [a] tocavam, ficavam saudáveis.

Capítulo 15

1. Então se chegaram a Jesus [alguns] escribas e fariseus de Jerusalém, dizendo:
2. Por que teus discípulos violam a tradição dos anciãos? Pois não lavam suas as mãos, quando comem pão.
3. Porém ele respondendo, disse-lhes:
 Porque vós violais também o mandamento de Deus por vossa tradição?
4. Porque Deus mandou, dizendo:
 Honra a teu pai, e a [tua] mãe; e, quem disser mal ao pai, ou à mãe, morra de morte.
5. Mas vós dizeis:
 Qualquer um que disser ao pai ou à mãe:
 Oferta [é] tudo o que podes ter proveito de mim;
 E [assim] ele não [precisa mais] honrar a seu pai ou a sua mãe.
6. E [portanto] invalidastes o mandamento de Deus por vossa tradição.
7. Hipócritas, Isaías bem profetizou sobre vós, dizendo:
8. Este povo com sua boca se achega a mim, e com os lábios me honra; mas seu coração está longe de mim.
9. Mas me honram em vão, ensinando como doutrinas mandamentos humanos.
10. E chamando a multidão para si, disse-lhes:
 Ouvi e entendei.
11. Não [é] o que entra na boca que contamina ao homem; mas sim o que sai da boca, isso contamina ao homem.
12. Então chegando-se seus discípulos a ele, disseram-lhe:
 Sabes que os fariseus, quando ouviram esta palavra, se escandalizaram?
13. Mas ele, respondendo, disse:
 Toda planta que meu Pai celestial não plantou será arrancada pela raiz.
14. Deixai-os, são guias cegos de cegos; e se o cego guiar ao cego, ambos cairão na cova.
15. E Pedro respondendo, disse-lhe:
 Explica-nos esta parábola.
16. Porém Jesus disse:
 Até vós ainda estais sem entendimento?
17. Não entendeis ainda, que tudo o que entra na boca, vai ao ventre, e é lançado na privada?
18. Mas o que sai da boca procede do coração; e isto contamina ao homem;
19. Porque do coração procedem maus pensamentos, mortes, adultérios, pecados sexuais, furtos, falsos testemunhos, blasfêmias.
20. Estas coisas são as que contaminam ao homem; mas comer sem lavar as mãos não contamina ao homem
21. E Jesus, tendo partido dali, foi para as regiões de Tiro e de Sídon.
22. E eis que uma mulher Cananeia, que tinha saído daqueles limites, clamou-lhe, dizendo:
 Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de mim; minha filha está miseravelmente endemoninhada.
23. Mas ele não lhe respondeu palavra. E chegando-se seus discípulos a ele, rogaram-lhe, dizendo: Manda-a embora, porque ela grita atrás de nós.
24. E ele, respondendo, disse:
 Eu fui enviado somente para as ovelhas perdidas da casa de Israel.
25. Então veio ela, e o adorou, dizendo:
 Senhor, ajuda-me.
26. Mas ele, respondendo, disse:
 Não é bom tomar o pão dos filhos e lançá-lo aos cachorrinhos.
27. E ela disse:
 Sim, Senhor; porém também os cachorrinhos comem das migalhas que caem da mesa de seus senhores.
28. Então Jesus respondeu, e disse-lhe:
 Ó mulher! grande [é] tua fé; seja feito a ti como queres.
E sua filha sarou desde aquela mesma hora.
29. E Jesus, tendo partido dali, veio ao mar da Galileia; e subindo a um monte, sentou-se ali.
30. E vieram a ele muitas multidões, que tinham consigo mancos, cegos, mudos, aleijados, e outros muitos; e os lançaram aos pés de Jesus, e ele os curou,
31. De tal maneira, que as multidões se maravilhavam, vendo os mudos falarem, os aleijados ficarem íntegros, os mancos andarem, e os cegos verem; e glorificaram ao Deus de Israel.
32. E Jesus, chamando a si seus discípulos, disse:
 Estou comovido com a multidão, porque já [há] três dias [que] estão comigo, e não têm o que comer; e não quero deixá-los ir em jejum, para que não desmaiem no caminho.
33. E seus discípulos lhe disseram:
 Donde [conseguiremos] tantos pães no deserto, para fartar tão grande multidão?
34. E Jesus lhes disse:
 Quantos pães tendes?
E eles disseram:
 Sete, e uns poucos peixinhos.
35. E mandou as multidões se sentarem pelo chão.
36. E tomando os sete pães e os peixes, e dando graças, partiu-os, e deu-os a seus discípulos, e os discípulos à multidão.
37. E todos comeram, e se fartaram; e levantaram do que sobrou dos pedaços, sete cestos cheios.
38. E os que tinham comido eram quatro mil homens, sem contar as mulheres e as crianças.
39. E ele, tendo despedido as multidões, entrou em um barco, e veio aos limites de Magdala.

Capítulo 16

1. E os fariseus e os saduceus a ele, tendo chegado até ele para tentá[-lo], pediram-lhe que lhes mostrasse algum sinal do céu.
2. Mas ele respondendo, disse-lhes:
 Quando a tarde já é vinda, dizeis:
 Bom tempo, porque o céu está vermelho.
3. E pela manhã:
 Hoje [haverá] tempestade, porque o céu está vermelho triste.
 Hipócritas, vós bem sabeis fazer diferença na face do céu, mas nos sinais dos tempos não podeis?
4. Uma geração má e adúltera pede sinal; e não lhe será dado sinal, a não ser o sinal do profeta Jonas.
E deixando-os, foi embora
5. E vindo seus discípulos para a outra margem, tinham se esquecido de tomar pão [consigo].
6. E Jesus lhes disse:
 Ficai atentos, e tomai cuidado com o fermento dos fariseus e saduceus.
7. E eles argumentavam entre si, dizendo:
 [Isto] é porque não tomamos pão.
8. E Jesus, percebendo, disse-lhes:
 Por que argumentais entre vós mesmos, [homens] de pouca fé, que não tomastes pão?
9. Não entendeis ainda, nem vos lembrais dos cinco pães dos cinco mil [homens], e quantas cestas levantastes?
10. Nem dos sete pães dos quatro mil, e quantos cestos levantastes?
11. Como não entendeis que eu não vos disse por causa do pão para tomardes cuidado com o fermento dos Fariseus e Saduceus?
12. Então entenderam que ele não tinha dito para tomarem cuidado com o fermento do pão, mas sim com a doutrina dos fariseus e saduceus.
13. E Jesus, tendo vindo às regiões da Cesareia de Filipe, perguntou a seus discípulos, dizendo:
 Quem os homens dizem que eu, o Filho do homem, sou?
14. E eles disseram:
 Alguns João Batista, e outros Elias, e outros Jeremias, ou algum dos profetas.
15. Ele lhes disse:
 E vós, quem dizeis que eu sou?
16. E Simão Pedro, respondendo, disse:
 Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivente.
17. E Jesus, respondendo, disse-lhe:
 Bem-aventurado és tu, Simão Bar-Jonas; porque não foi carne e sangue que o revelou a ti, mas sim meu Pai, que [está] nos céus.
18. E também eu te digo, que tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei minha Igreja; e as portas do mundo dos mortos não prevalecerão contra ela.
19. E a ti te darei as chaves do Reino dos céus; e tudo o que ligares na terra, será ligado nos céus; e tudo o que desligares na terra, será desligado nos céus.
20. Então mandou a seus discípulos que a ninguém dissessem que ele era Jesus o Cristo.
21. Desde então Jesus começou a mostrar a seus discípulos que ele devia ir a Jerusalém, e sofrer muito pelos anciãos, pelos chefes dos sacerdotes, e pelos escribas, e ser morto, e ser ressuscitado ao terceiro dia.
22. E Pedro, tomando-o consigo, começou a repreendê-lo, dizendo:
 Senhor, [tem] compaixão de ti [mesmo]; de jeito nenhum te aconteça isto.
23. Porém ele, virando-se, disse a Pedro:
 Afasta-te para trás de mim, Satanás, tu me és ofensa, porque não compreendes as coisas de Deus, mas sim as dos homens.
24. Então Jesus disse a seus discípulos:
 Se alguém quiser vir após mim, negue-se a si mesmo, e tome sobre si a sua cruz, e siga-me.
25. Porque qualquer um que quiser salvar sua vida a perderá; porém qualquer um que por causa de mim perder sua vida, a achará.
26. Porque que ganho há para o homem, se obtiver o mundo todo, e perder sua alma? ou que dará o homem em pagamento por sua alma?
27. Porque o Filho do homem virá na glória de seu Pai com seus anjos; e então recompensará a cada um segundo suas obras.
28. Em verdade vos digo, que há alguns dos que aqui estão, que não experimentarão a morte, até que vejam o Filho do homem vir em seu Reino.

Capítulo 17

1. E depois de seis dias Jesus tomou consigo a Pedro, Tiago, e a João seu irmão, e os levou a um monte alto à parte.
2. E transfigurou-se diante deles; e seu rosto brilhou como o sol, e suas roupas se fizeram brancas como a luz.
3. E eis que lhes apareceram Moisés e Elias, falando com ele.
4. E Pedro, respondendo, disse a Jesus:
 Senhor, é bom estarmos nós aqui; se quiseres, façamos aqui três cabanas, uma para ti, e uma para Moisés, e uma para Elias.
5. Estando ele ainda falando, eis que uma nuvem brilhante os cobriu com uma sombra. E eis uma voz da nuvem, que disse:
 Este é o meu amado filho, em quem me agrado; a ele ouvi.
6. E os discípulos, ouvindo [isto], caíram sobre seus rostos, e temeram muito.
7. E chegando-se Jesus a eles, tocou-os, e disse:
 Levantai-vos, e não tenhais medo.
8. E levantando eles seus olhos, viram a ninguém, a não ser somente a Jesus.
9. E quando desceram do monte, Jesus mandou-lhes, dizendo:
 A ninguém digais a visão, até que o Filho do homem seja ressuscitado dos mortos.
10. E seus discípulos lhe perguntaram, dizendo:
 Por que, então, os escribas dizem que é necessário que Elias venha primeiro?
11. E Jesus, respondendo, disse-lhes:
 Em verdade Elias virá primeiro, e restaurará todas as coisas.
12. Mas digo-vos que Elias já veio, e não o reconheceram; em vez disso fizeram dele tudo o que quiseram. Assim também o Filho do homem sofrerá por meio deles.
13. Então os discípulos entenderam que ele estava lhes dizendo de João Batista.
14. E quando chegaram à multidão, veio um homem a ele, pondo-se de joelhos diante dele, e dizendo:
15. Senhor, tem misericórdia de meu filho, que é lunático, e sofre muito mal; porque muitas vezes cai no fogo, e muitas vezes na água.
16. E eu o trouxe a teus discípulos, mas não puderam o curar.
17. E Jesus, respondendo, disse:
 Ó geração incrédula e perversa! Até quando estarei convosco? Até quando ainda terei de sofrer por causa de vós? Trazei-o a mim aqui.
18. E Jesus o repreendeu, e o demônio saiu dele, e o menino sarou desde aquela hora.
19. Chegando-se então os discípulos a Jesus à parte, disseram:
 Por que nós não o pudemos expulsar?
20. E Jesus lhes disse:
 Por causa de vossa incredulidade; porque em verdade vos digo, que se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a este monte:
 Passa-te daqui para lá,
 E ele passaria; e nada vos seria impossível.
21. Mas este tipo [de demônio] não sai, a não ser por oração e jejum.
22. E eles, enquanto andavam na Galileia, Jesus lhes disse:
 O Filho do homem será entregue em mãos de homens.
23. E o matarão, e ele será ressuscitado ao terceiro dia.
E eles se entristeceram muito.
24. E quando entraram em Cafarnaum, os cobradores das didracmas vieram a Pedro, e disseram: Vosso mestre não paga as didracmas?
25. Ele disse:
 Sim.
E entrando em casa, Jesus o antecipou, dizendo:
 Que te parece, Simão? De quem os reis da terra cobram tributos ou o censo? De seus filhos, ou dos outros?
26. Pedro lhe disse:
 Dos outros.
Jesus lhe disse:
 Portanto os filhos são livres.
27. Mas para que eles não se ofendam, vai ao mar, e lança o anzol; e o primeiro peixe que subir, toma, e quando abrir a boca dele, acharás um estáter; toma-o, e dá a eles por mim e por ti.

Capítulo 18

1. Naquela mesma hora os discípulos chegaram até Jesus, dizendo:
 Quem, pois, é o maior no Reino dos céus?
2. E Jesus chamou a si uma criança [e] a pôs no meio deles.
3. E disse:
 Em verdade vos digo, que se vós não converterdes, e fordes como crianças, em maneira nenhuma entrareis no reino dos céus.
4. Portanto qualquer um que se humilhar como este menino, este é o maior no reino dos céus.
5. E qualquer um que a um tal menino receber em meu nome, recebe a mim.
6. Mas qualquer um que ofender a um destes pequenos, que em mim creem, melhor lhe fora que uma grande pedra de moinho lhe fosse pendurada ao pescoço, e se afundasse no fundo do mar.
7. Ai do mundo por causa das ofensas! Porque é necessário que venham ofensas; mas ai daquele homem por quem a ofensa vem!
8. Portanto, se tua mão ou teu pé te ofende, corta-os, e lança[-os] de ti; melhor te é entrar manco ou aleijado na vida, do que tendo duas mãos, ou dois pés, ser lançado no fogo eterno.
9. E se teu olho te ofende, arranca-o, e lança-o de ti. Melhor te é entrar com um olho na vida, do que tendo dois olhos, ser lançado no fogo do inferno.
10. Olhai que não desprezeis a algum destes pequenos; porque eu vos digo, que sempre seus anjos nos céus veem a face de meu Pai, que [está] nos céus.
11. Porque o Filho do homem veio para salvar o que tinha se perdido.
12. Que vos parece? se algum homem tivesse cem ovelhas, e uma delas se desviasse, não iria pelos montes, deixando as noventa e nove, em busca da desviada?
13. E se acontecesse achá-la, em verdade vos digo, Que mais se alegra daquela, que das noventa e nove, que se não desviaram.
14. Assim não é a vontade de vosso Pai, que [está] nos céus, que um destes pequenos se perca.
15. Porém se teu irmão pecar contra ti, vai, e repreende-o entre ti e ele só; se te ouvir, a teu irmão ganhaste.
16. Porém se não te ouvir, toma ainda contigo um ou dois, para que em boca de duas ou três testemunhas, confirma toda palavra.
17. E se não lhes der ouvidos, dize [sobre isto] à igreja; e se também não der ouvidos à igreja, considera-o como gentio e cobrador de impostos.
18. Em verdade vos digo, que tudo o que ligardes na terra, será ligado no céu; e tudo o que desligardes na terra, será desligado no céu.
19. E digo-vos que, se dois de vós se concordarem na terra, sobre qualquer coisa que pedirem, lhes será feito por meu Pai, que [está] nos céus.
20. Porque aonde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles.
21. Então Pedro chegando-se a ele, disse:
 Senhor, até quantas vezes meu irmão pecará contra mim, e eu lhe perdoarei? Até sete?
22. Jesus lhe disse:
 Eu não te digo até sete, mas sim até setenta vezes sete.
23. Pelo que o Reino dos céus se compara a um certo rei, que quis fazer contas com seus servos.
24. E começando a fazer contas, foi-lhe apresentado um que lhe devia dez mil talentos.
25. E não tendo ele com que pagar, mandou o seu senhor vender a ele, e a sua mulher, e filhos, com tudo quanto tinha, e que [a dívida] fosse paga.
26. Então aquele servo, prostrando-se, ficou em posição de reverência, dizendo:
 Senhor, sê misericordioso em paciência para comigo, e tudo te pagarei.
27. E movido o senhor daquele servo a íntima compaixão, soltou-o, e perdoou-lhe a dívida.
28. Saindo porém aquele servo, achou um de seus colegas servos que lhe devia cem dinheiros; e agarrando, [o] sufocava, dizendo:
 Paga-me o que [me] deves.
29. Então seu colega servo, prostrando-se a seus pés, suplicava-lhe, dizendo:
 Sê misericordioso em paciência para comigo, e tudo te pagarei.
30. Mas ele não quis; em vez disso foi, e o lançou na prisão, até que pagasse a dívida.
31. Vendo pois seus colegas servos o que se passava, entristeceram-se muito; e vindo, declararam a seu senhor tudo o que passara.
32. Então chamando o seu senhor a si, disse-lhe:
 Servo malvado; toda aquela dívida te perdoei, porque me suplicaste;
33. Não te convinha a ti também ter misericórdia de teu colega servo, como eu também tive misericórdia de ti?
34. E tendo seu senhor se irritado, entregou-o aos torturadores, até que pagasse tudo o que lhe devia.
35. Assim também vos fará meu Pai celestial, se de coração não perdoardes cada um a seu irmão suas ofensas.

Capítulo 19

1. E aconteceu que, acabando Jesus estas palavras, passou da Galileia, e veio aos limites de Judeia, dalém do Jordão.
2. E muitas multidões o seguiram, e ele os curou ali.
3. Então chegaram-se a ele os Fariseus, tentando-o, e dizendo-lhe:
 É lícito ao homem deixar sua mulher por qualquer causa?
4. Porém respondendo ele, disse-lhes:
 Não tendes lido, que o que [os] fez ao princípio, macho e fêmea os fez?
5. E disse:
 Portanto deixará o homem pai e mãe, e se unirá a sua mulher, e serão os dois em uma carne.
6. Portanto eles não são mais dois, mas sim uma carne; portanto o que Deus juntou, não separe o homem.
7. Disseram-lhe eles:
 Por que, pois, Moisés mandou [lhe] dar carta de separação, e deixá-la?
8. Disse-lhes ele:
 Pela dureza de vossos corações Moisés vos permitiu deixar a vossas mulheres: mas ao princípio não foi assim.
9. Porém eu vos digo que, qualquer um que deixar a sua mulher, a não ser por causa de pecado sexual, e se casar com outra, adultera; o que se casar com a [que foi] deixada [também] adultera.
10. Disseram-lhe seus discípulos:
 Se assim é a causa do homem com a mulher, não convém se casar.
11. Porém ele lhes disse:
 Nem todos compreendem esta palavra, a não ser aqueles a quem é dado.
12. Porque há castrados, que do ventre da mãe assim nasceram; e há castrados, que pelos homens foram castrados; e há castrados, que se castraram a si mesmos por causa do Reino dos céus. Quem [isto] pode compreender, compreenda[-o].
13. Então lhe trouxeram [algumas] crianças, para que pusesse as mãos sobre elas, e orasse; e os discípulos as repreendiam.
14. Mas Jesus disse:
 Deixai as crianças, e não as impeçais de vir a mim; porque das tais é o Reino dos céus.
15. E havendo posto sobre elas as mãos, partiu-se dali.
16. E eis que chegando-se a ele um, disse-lhe:
 Bom Mestre, que bem farei, para ter a vida eterna?
17. E ele lhe disse:
 Por que me chamas bom? Ninguém há bom, a não ser um: Deus. Porém se queres entrar na vida, guarda os mandamentos.
18. Disse-lhe ele:
 Quais?
E Jesus disse:
 Não matarás, não adulterarás, não furtarás, não darás falso testemunho.
19. Honra a teu pai, e a [tua] mãe; e amarás a teu próximo como a ti mesmo.
20. Disse-lhe o rapaz:
 Tudo isto guardei desde minha juventude; que me falta ainda?
21. Disse-lhe Jesus:
 Se queres ser perfeito, vai, vende o que tens, e dá-o aos pobres, e terás um tesouro no céu; e vem, segue-me.
22. E ouvindo o rapaz esta palavra, foi-se triste, porque tinha muitos bens.
23. E disse Jesus a seus discípulos:
 Em verdade vos digo, que dificilmente entrará o rico no reino dos céus.
24. E outra vez vos digo, que mais fácil é passar um camelo pelo olho de uma agulha, do que entrar o rico no reino de Deus.
25. O que ouvindo seus discípulos, espantaram-se muito, dizendo:
 Quem pode logo se salvar?
26. E olhando Jesus [para eles], disse-lhes:
 Com os homens impossível é isto; mas com Deus tudo é possível.
27. Então respondendo Pedro, disse-lhe:
 Eis que tudo deixamos, e te seguimos; que haveremos logo?
28. E Jesus lhes disse:
 Em verdade vos digo, que vós que me seguistes, na regeneração, quando o Filho do homem se assentar no trono de sua glória, também vós sentareis sobre doze tronos, para julgar as doze tribos de Israel.
29. E qualquer que houver deixado casas, ou irmãos, ou irmãs, ou pai, ou mãe, ou mulher, ou filhos, ou terras por amor de meu nome, cem vezes tanto receberá, e a vida eterna herdará.
30. Porém muitos primeiros serão últimos; e [muitos] últimos, primeiros.

Capítulo 20

1. Porque semelhante é o reino dos céus a um homem chefe de casa, que saiu de madrugada para empregar trabalhadores para sua vinha.
2. E entrando em acordo com os trabalhadores por um dinheiro ao dia, mandou-os à sua vinha.
3. E saindo perto da hora terceira, viu outros, que estavam na praça desocupados.
4. E disse-lhes:
 Ide vós também à vinha, e dar-vos-ei o que for justo.
 E foram.
5. Saindo outra vez perto da hora sexta e nona, fez o mesmo.
6. E saindo perto da hora undécima, achou outros que estavam desocupados, e disse-lhes:
 Por que estais aqui o dia todo desocupados?
7. Disseram-lhe eles:
 Porque ninguém nos empregou.
 Disse-lhes ele:
 Ide vós também à vinha, e recebereis o que for justo.
8. E vinda já a tarde, disse o senhor da vinha a seu mordomo:
 Chama aos trabalhadores, e paga-lhes o salário, começando dos últimos até os primeiros.
9. E vindo-os de perto da hora undécima, receberam cada um um dinheiro.
10. E vindo os primeiros, pensaram que haviam de receber mais; e também eles receberam cada um um dinheiro.
11. E tomando[-o] murmuravam contra o chefe de casa.
12. Dizendo:
 Estes últimos trabalharam uma [só] hora, e os igualaste conosco, que levamos a carga e o calor do dia.
13. Porém respondendo ele, disse a um deles:
 Amigo, não te faço injustiça; não concordaste tu comigo por um dinheiro?
14. Toma o teu, e vai-te; e quero dar a este último [tanto] como a ti.
15. Ou não me é lícito fazer do meu o que eu quiser? Ou é teu olho mau, porque eu sou bom?
16. Assim serão os últimos primeiros; e os primeiros últimos; porque muitos são chamados, porém poucos escolhidos.
17. E subindo Jesus a Jerusalém, tomou consigo aos doze discípulos à parte no caminho, e disse-lhes:
18. Eis que subimos a Jerusalém, e o Filho do homem será entregue aos chefes dos sacerdotes, e aos escribas, e condená-lo-ão à morte.
19. E o entregarão aos gentios, para que dele escarneçam, e o açoitem, e crucifiquem; e ao terceiro dia ressuscitará.
20. Então se chegou a ele a mãe dos filhos de Zebedeu, com seus filhos, adorando[-o], e pedindo-lhe alguma coisa.
21. E ele lhe disse:
 Que queres?
Disse-lhe ela:
 Dize que estes meus dois filhos se sentem, um à tua direita, e outro à tua esquerda em teu Reino.
22. Porém respondendo Jesus, disse:
 Não sabeis o que pedis; podeis vós beber o copo que eu beberei, e ser batizados com o batismo com que eu sou batizado?
Disseram-lhe eles:
 Podemos.
23. E disse-lhes ele:
 Em verdade que meu copo bebereis, e com o batismo com que eu sou batizado, sereis batizados; mas sentar-se à minha direita, e à minha esquerda, não é meu concedê-lo, mas sim aos que por meu Pai está preparado.
24. E quando os dez ouviram [isto], irritaram-se contra os dois irmãos.
25. Então, chamando-os Jesus a si, disse:
 Bem sabeis que os chefes dos gentios os controlam, e os grandes usam sobre eles de autoridade.
26. Mas entre vós não será assim; mas qualquer que entre vós se quiser fazer grande, seja vosso trabalhador.
27. E qualquer que entre vós quiser ser o primeiro, seja vosso servo.
28. Assim como o Filho do homem não veio para ser servido, mas sim para servir, e para dar sua vida [em] resgate por muitos.
29. E saindo eles de Jericó, seguiu-o grande multidão.
30. E eis que dois cegos assentados junto ao caminho, ouvindo que Jesus passava, clamaram, dizendo:
 Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de nós.
31. E a multidão os repreendia, para que se calassem; mas eles clamavam ainda mais, dizendo: Senhor, Filho de Davi, tem misericórdia de nós.
32. E parando Jesus, chamou-os, e disse:
 Que quereis que vos faça?
33. Disseram-lhe eles:
 Senhor, que nossos olhos sejam abertos.
34. E movendo-se Jesus à íntima compaixão deles, tocou-lhes os olhos; e logo seus olhos viram, e o seguiram.

Capítulo 21

1. E quando chegaram [perto] de Jerusalém, e vieram a Betfagé, ao monte das Oliveiras, então mandou Jesus dois discípulos, dizendo-lhes:
2. Ide à aldeia que de frente de vós [está] e logo achareis uma jumenta atada, e um jumentinho com ela; desatai-a, e trazei-os a mim.
3. E se alguém vos disser alguma coisa, direis:
 Que o Senhor os tem necessidade, e logo os enviará [de volta].
4. Ora, tudo isto aconteceu para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta, que disse:
5. Dizei à filha de Sião:
 Eis que teu rei te vem manso, e sentado sobre uma jumenta, e um jumentinho, filho de [animal de carga].
6. E indo aos discípulos, e fazendo como Jesus lhes mandara;
7. Trouxeram a jumenta e o jumentinho, e puseram sobre eles suas roupas, e [o] fizeram sentar sobre eles.
8. E a muito grande multidão estendia suas roupas pelo caminho, e outros cortavam ramos das árvores, e os espalhavam pelo caminho.
9. E as multidões que iam adiante, e as que seguiam clamavam, dizendo:
 Hosana ao Filho de Davi! Bendito o que vem no nome do Senhor! Hosana nas alturas!
10. E entrando ele em Jerusalém, toda a cidade se alvoroçou, dizendo:
 Quem é este?
11. E as multidões diziam:
 Este é Jesus, o Profeta de Nazaré de Galileia.
12. E entrou Jesus no Templo de Deus: e lançou fora a todos os que vendiam, e compravam no Templo, e virou as mesas dos cambistas, e as cadeiras dos que vendiam pombas.
13. E disse-lhes:
 Escrito está:
 Minha casa, casa de oração será chamada;
 mas vós a tendes feito cova de ladrões.
14. E vieram a ele cegos e mancos ao Templo, e curou-os.
15. Vendo então os chefes dos sacerdotes e os escribas as maravilhas que fazia, e os meninos gritando no Templo, e dizendo:
 Hosana ao Filho de Davi,
irritaram-se.
16. E disseram-lhe:
 Ouves o que estes dizem?
E Jesus lhes disse:
 Sim; nunca lestes:
 Da boca dos menininhos, e dos que mamam, [te] aperfeiçoaste o louvor?
17. E deixando-os, saiu-se fora da cidade para Betânia, e passou ali a noite.
18. E pela manha, voltando para a cidade, teve fome.
19. E vendo uma figueira perto do caminho, veio a ela, e nada nela achou, a não ser somente folhas. E disse-lhe:
 Nunca mais de ti nasça fruto, para sempre!
E logo a figueira se secou.
20. E vendo os discípulos [isto], maravilharam-se, dizendo:
 Como se secou a figueira?
21. Porém, respondendo Jesus, disse-lhes:
 Em verdade vos digo [que], se tiverdes fé, e não duvidardes, não só isto fareis a figueira, mas se até a este monte disserdes:
 Levanta-te, e lança-te no mar;
 Far-se-ia.
22. E tudo o que na oração pedirdes, crendo, [o] recebereis.
23. E quando veio ao templo, chegaram a ele, estando já ensinando, os chefes dos sacerdotes, e os anciãos do povo, dizendo:
 Com que autoridade fazes isto? E quem te deu esta autoridade?
24. E respondendo Jesus, disse-lhes:
 Também eu vos perguntarei uma palavra; a qual se a disserdes a mim, também eu vos direi com que autoridade isto faço.
25. O batismo de João de onde era? Do céu, ou dos homens?
E pensavam em si mesmos, dizendo:
 Se dissermos,
 Do céu,
 Dir-nos-á:
 Porque pois lhe não crestes?
26. E se dissermos:
 Dos homens,
tememos a multidão, porque tem a João por profeta.
27. E respondendo a Jesus, disseram:
 Não sabemos.
E ele lhes disse:
 Nem eu tão pouco vos direi com que autoridade isto faço.
28. Mas que vos parece? Um homem tinha dois filhos; e chegando-se ao primeiro, disse:
 Filho, vai hoje para trabalhar à minha vinha.
29. Porém respondendo ele, disse:
 Não quero;
 e depois, arrependido, foi embora.
30. E chegando-se ao segundo, disse[-lhe] da mesma maneira; e respondendo ele, disse:
 Eu, senhor, [vou],
 e não se foi.
31. Qual dos dois fez a vontade do pai?
Dizem-lhe eles:
 O primeiro.
Diz-lhe Jesus:
 Em verdade vos digo, que os cobradores de impostos e as prostitutas vão adiante de vós ao Reino de Deus.
32. Porque veio a vós João, por via de justiça, e não lhe crestes; mas os publicanos, e as prostitutas lhe creram; porém vós, vendo [isto], nem depois vós arrependestes, para nele crer.
33. Ouvi outra parábola. Houve um homem pai de famílias, o qual plantou uma vinha, e cercou- a, e fundou nela um esmagador de uvas, e edificou uma torre, e arrendou-a a uns lavradores, e partiu-se para fora [daquela terra].
34. E chegando-se o tempo dos frutos, mandou seus servos aos lavradores, para receberem seus frutos.
35. E os lavradores, tomando a seus servos, a um feriram, e a outro mataram, e a outro apedrejaram.
36. Outra vez mandou a outros servos, mais que os primeiros, e fizeram-lhes o mesmo.
37. E por último lhes mandou a seu filho, dizendo:
 Terão respeito a meu filho.
38. Mas os lavradores vendo ao filho, disseram entre si:
 Este é o herdeiro, vinde, matemo-lo, e tomemos sua herança.
39. E tomando, o lançaram fora da vinha, e [o] mataram.
40. Pois, quando vier o Senhor da vinha, que fará aqueles lavradores?
41. Dizem-lhe eles:
 Aos maus má morte dará, e a vinha arrendará a outros lavradores, que lhe deem os frutos a seus tempos.
42. Diz-lhes Jesus:
 Nunca lestes nas Escrituras:
 A pedra que os edificadores rejeitaram, esta foi feita por cabeça da esquina? Pelo Senhor foi feito isto, e é maravilhoso em nossos olhos.
43. Portanto vos digo, que o reino de Deus se vos tirará a vós, e se dará a gente que produza seus frutos.
44. E quem cair sobre esta pedra, será quebrado; e quem sobre ela cair, tornar-se-á pó.
45. E ouvindo os chefes dos sacerdotes e os fariseus estas suas parábolas, entenderam que falava deles.
46. E procurando prendê-lo, temeram as multidões, porque o tinham por Profeta.

Capítulo 22

1. E respondendo Jesus, voltou-lhes a falar por parábolas, dizendo:
2. Semelhante é o Reino dos céus a um certo rei, que fez festa de casamento para seu filho.
3. E mandou a seus servos que chamassem aos convidados para a festa de casamento, e não quiseram vir.
4. Outra vez [pois] mandou outros servos, dizendo:
 Dizei aos convidados:
 Eis que meu jantar tenho preparado, meus bois e cevados já [estão] mortos, e tudo já [está] preparado, vinde à festa de casamento.
5. Porém eles havendo[-o] desprezado, foram-se, um a seu campo, e outro à seu comércio.
6. E outros tomando a seus servos, afrontaram[-nos], e mataram-[nos].
7. E ouvindo o rei [isto], irritou-se; e mandando seus exércitos, destruiu àqueles homicidas, e pôs a fogo sua cidade.
8. Então disse a seus servos:
 Em verdade preparada está a festa de casamento, porém não eram dignos os convidados.
9. Ide pois às saídas dos caminhos, e chamai à festa de casamento a tantos quantos achardes.
10. E saindo os servos pelos caminhos, juntaram a todos quantos acharam, tanto maus como bons; e a festa de casamento se encheu dos sentados à mesa.
11. E entrando o rei, para ver os assentados à mesa, viu ali um homem [que] não [estava] vestido com roupa para festa de casamento.
12. E disse-lhe:
 Amigo, como entraste aqui, não tendo roupa para festa de casamento?
 E emudeceu.
13. Então disse o rei aos servos:
 Amarrai-o de pés e de mãos, tomai-o, e lançai[-o] nas trevas exteriores; ali será o pranto e o ranger de dentes.
14. Porque muitos são chamados, porém poucos escolhidos.
15. Então, idos os Fariseus, tiveram conselho, sobre como o apanhariam em [alguma] palavra.
16. E enviaram-lhe seus discípulos, juntamente com os de Herodes, dizendo:
 Mestre, bem sabemos que és verdadeiro, e com verdade ensinas o caminho de Deus, e de ninguém se te interessa [agradar], porque não olhas para a aparência de homens.
17. Dize-nos pois, que te parece? É lícito dar tributo a César, ou não?
18. Mas Jesus entendendo sua malícia, disse:
 Por que me tentais, hipócritas?
19. Mostra-me a moeda do tributo.
E eles lhe trouxeram um dinheiro.
20. E ele lhes disse:
 De quem é esta imagem, e [esta] inscrição?
21. Dizem-lhes eles:
 De César.
Então lhes disse ele:
 Dai pois a César o que é de César, e a Deus o que é de Deus.
22. E ouvindo eles isto, maravilharam-se, e deixando-o, foram-se.
23. Aquele mesmo dia chegaram a ele os saduceus, que dizem não haver ressurreição, e perguntaram-lhe,
24. Dizendo:
 Mestre, Moisés disse:
 Se algum morrer, não tendo filhos, seu irmão se casará com sua mulher, e levantará semente a seu irmão.
25. Houve pois entre nós sete irmãos, e casando-se o primeiro, morreu; e não tendo semente, deixou sua mulher a seu irmão.
26. Da mesma maneira também o segundo, e o terceiro, até os sete.
27. Por último depois de todos morreu também a mulher.
28. Na ressurreição, pois, de qual dos sete será a mulher? Porque todos a tiveram.
29. Porém respondendo Jesus, disse-lhes:
 Errais, não sabendo as escrituras, nem o poder de Deus.
30. Porque na ressurreição, nem se tomam, nem se dão em casamento; mas são como os anjos de Deus no céu.
31. E sobre a ressurreição dos mortos, não tendes lido o que Deus vos tem falado, que diz:
32. Eu sou o Deus de Abraão, e o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó?
 Deus não é Deus dos mortos, mas dos viventes.
33. E ouvindo [isto] as multidões, admiravam de sua doutrina.
34. E ouvindo os fariseus, que havia tapado a boca aos saduceus, reuniram-se a ele.
35. E perguntou um deles, especialista da Lei, tentando-o, e dizendo:
36. Mestre, qual é o grande mandamento na Lei?
37. E Jesus lhe disse:
 Amarás ao Senhor teu Deus com todo teu coração, e com toda tua alma, e com todo teu entendimento.
38. Este é o primeiro e grande mandamento.
39. E o segundo, semelhante a este [é]:
 Amarás a teu próximo como a ti mesmo.
40. Destes dois mandamentos depende toda a Lei, e os Profetas.
41. E reunidos os fariseus, Jesus lhes perguntou,
42. Dizendo:
 Que vos parece quanto ao Cristo? De quem ele é filho?
Eles lhe disseram:
 De Davi.
43. Disse-lhes ele:
 Como pois Davi em espírito o chama Senhor, dizendo:
44. Disse o Senhor a meu Senhor:
 Senta-te à minha direita, até que eu ponha teus inimigos por suporte de teus pés.
45. Pois se Davi o chama Senhor, como é seu filho?
46. E ninguém lhe podia responder palavra; nem ninguém ousou desde aquele dia a mais lhe perguntar.

Capítulo 23

1. Então Jesus falou às multidões, e a seus discípulos,
2. Dizendo:
 Sobre a cadeira de Moisés se sentam os escribas e fariseus.
3. Portanto tudo o que vos disseram para que guardeis, guardai, e fazei; mas não façais segundo suas obras; porque eles dizem e não fazem.
4. Porque atam cargas pesadas, e difíceis de levar, e as põem sobre os ombros dos homens; porém eles nem [mesmo] com seu dedo as querem mover.
5. E todas suas obras fazem para serem vistos dos homens; porque alargam seus memoriais, e estendem as bordas de suas roupas.
6. E amam os primeiros assentos nas ceias, e as primeiras cadeiras nas sinagogas.
7. E as saudações nas praças, e serem chamados dos homens:
 Rabi, Rabi.
8. Mas vós não vos chameis Rabi; porque um é vosso Mestre: o Cristo; e todos vós sois irmãos.
9. E não chameis a ninguém na terra vosso pai; porque um é vosso Pai: o que [está] nos céus.
10. Nem vos chameis de mestres; porque um é vosso mestre: o Cristo.
11. Porém o maior de vós seja vosso servo.
12. E o que a si mesmo se levantar, será humilhado; e o que a si mesmo se humilhar, será levantado.
13. Mas ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque fechais o Reino dos céus diante dos homens; porque nem vós entrais, nem aos que entram deixais entrar.
14. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque comeis as casas das viúvas, e [isso] com pretexto de larga oração; por isso recebereis mais grave juízo.
15. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque rodeais o mar, e a terra, por fazerdes um prosélito; e quando já é feito, vós o fazeis filho do inferno, em dobro mais que a vós.
16. Ai de vós, guias cegos, que dizeis:
 Qualquer que jurar pelo Templo, nada é; mas qualquer que jurar pelo ouro do Templo, devedor é.
17. Loucos e cegos; por que qual é maior, o ouro, ou o Templo, que santifica ao ouro?
18. Também:
 Qualquer que jurar pelo altar, nada é; mas qualquer que jurar pela oferta que [está] sobre ele, devedor é.
19. Loucos e cegos; porque qual é maior, a oferta, ou o altar, que santifica a oferta?
20. Portanto o que jurar pelo altar, jura por ele, e por tudo o que sobre ele [está].
21. E o que jurar pelo Templo, jura por ele, e pelo que nele habita.
22. E o que jurar pelo Céu, jura pelo trono de Deus, e pelo que sobre ele está sentado.
23. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque dais o dízimo da hortelã, o endro, e o cominho, e deixais as [coisas de] maior peso da Lei: o juízo, e a misericórdia, e a fé: isto era necessário fazer, e não deixar o outro.
24. Guias cegos, que coais o mosquito, e engolis o camelo.
25. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque limpais o exterior do copo, ou do prato; mas de dentro estão cheios de roubo e intemperança.
26. Fariseu cego, limpa primeiro o que [está] de dentro do copo, e do prato, para que também o exterior deles fique limpo.
27. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas! Porque sois semelhantes aos sepulcros caiados, que de fora em verdade parecem formosos, mas de dentro estão cheios de ossos de mortos, e de toda imundícia.
28. Assim também vós, de fora em verdade pareceis justos aos homens, porém de dentro estais cheios de hipocrisia e injustiça.
29. Ai de vós, escribas e fariseus, hipócritas; porque edificais os sepulcros dos profetas, e adornais os monumentos dos justos;
30. E dizeis:
 Se fôssemos nos dias de nossos pais, nunca haveríamos cooperado com eles no sangue dos profetas.
31. Assim [contra] vós mesmos testificais, que sois filhos daqueles que mataram aos profetas.
32. Enchei [pois] vós também a medida de vossos pais.
33. Serpentes, raça de víboras, como escapareis da condenação do inferno?
34. Portanto vedes aqui vos mando profetas, e sábios, e escribas; e deles [a uns] matareis, e crucificareis, e deles [a outros] açoitareis em vossas sinagogas, e perseguireis de cidade em cidade.
35. Para que venha sobre vós todo o sangue justo, que foi derramado sobre a terra, desde o sangue de Abel o justo, até o sangue de Zacarias, filho de Baraquias, ao qual matastes entre o Templo e o altar.
36. Em verdade vos digo, que tudo isto virá sobre esta geração.
37. Jerusalém, Jerusalém, que matas aos Profetas, e apedrejas aos que te são enviados: quantas vezes quis eu ajuntar teus filhos, como a galinha ajunta seus pintos debaixo de [suas] asas; e não quisestes!
38. Eis que vossa casa se vos deixa deserta.
39. Porque eu vos digo, que desde agora não [mais] me vereis, até que digais:
 Bendito aquele que vem no nome do Senhor.

Capítulo 24

1. E saindo Jesus do Templo, foi-se: e chegaram-se a ele seus discípulos, para lhe mostrarem os edifícios do Templo.
2. E disse-lhes Jesus:
 Não vedes tudo isto? Em verdade vos digo, [que] não será deixada aqui pedra sobre pedra, que não seja derrubada.
3. E sentando-se no monte das Oliveiras, chegaram-se a ele os discípulos à parte, dizendo:
 Dize-nos, quando serão estas coisas, e que sinal [haverá] de tua vinda, e da consumação do mundo?
4. E respondendo Jesus, disse-lhes:
 Ficai atentos para que ninguém vos engane.
5. Porque virão muitos em meu nome, dizendo:
 Eu sou o Cristo,
 e a muitos enganarão.
6. E ouvireis de guerras, e de rumores de guerras; olhai que não vos espanteis; porque é necessário, que tudo [isto] aconteça; mas ainda não é o fim.
7. Porque se levantará nação contra nação, e reino contra reino; e haverá fomes, e pestilências, e terremotos em diversos lugares.
8. Mas todas estas coisas são [somente] princípio de dores.
9. Então vos entregarão para serdes afligidos, e matar-vos-ão; e sereis odiados de todas as nações, por causa de meu nome.
10. E muitos então se ofenderão; e se entregarão uns aos outros, e uns aos outros se odiarão.
11. E muitos falsos profetas se levantarão, e a muitos enganarão.
12. E por se multiplicar a injustiça, o amor de muitos se esfriará.
13. Mas o que perseverar até o fim, esse será salvo.
14. E pregar-se-á este Evangelho do Reino em todo o mundo, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim.
15. Portanto quando virdes a abominação da desolação, de que foi dito por Daniel o profeta, que está no lugar santo, (quem lê, entenda),
16. Então os que estiveram na Judeia, fujam para os montes.
17. O que estiver no sobre o telhado, não desça para tomar alguma coisa de sua casa.
18. E o que estiver no campo, não volte atrás para tomar suas roupas.
19. Mas ai das grávidas, e das que amamentarem naqueles dias.
20. Orai porém, que vossa fuga não aconteça em inverno, nem em sábado.
21. Porque haverá então grande aflição, qual nunca houve desde o princípio do mundo até agora, nem jamais haverá.
22. E se aqueles dias não fossem encurtados, nenhuma carne se salvaria; mas por causa dos escolhidos, serão encurtados aqueles dias.
23. Então se algum de vós disser:
 Eis aqui [está] o Cristo, ou ali,
 não [o] creiais.
24. Porque se levantarão falsos cristos, e falsos profetas; e tão grandes sinais e prodígios farão, que se possível fosse, até aos escolhidos enganariam.
25. Eis que vos tenho dito dantes.
26. Portanto se vos disserem:
 Eis que ele está aqui no deserto,
 não saiais;
 Eis que [ele está] aqui nas câmaras,
 não creiais.
27. Porque como o relâmpago, que sai do oriente, e aparece até o ocidente, assim será também a vinda do Filho do homem.
28. Porque onde quer que estiver o corpo morto, ali se ajuntarão as águias.
29. E logo depois da aflição daqueles dias, o sol se escurecerá, e a lua não dará seu brilho, e as estrelas cairão do céu, e as forças dos céus se estremecerão.
30. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem; e então todas as tribos da terra lamentarão, e verão ao Filho do homem, que vem sobre as nuvens do céu, com grande poder e glória.
31. E mandará a seus anjos com grande voz de trombeta, e ajuntarão a seus escolhidos desde os quatro ventos, desde o [uma] extremidade dos céus até a outra.
32. E da figueira aprendei a comparação:
 Quando já seus ramos se enverdecem, e as folhas brotam, sabeis que já o verão [está] perto.
33. Assim também vós, quando virdes todas estas coisas, sabei que já está perto às portas.
34. Em verdade vos digo, [que] não passará esta geração, até que todas estas coisas aconteçam.
35. O céu e a terra passarão, mas minhas palavras em maneira nenhuma passarão.
36. Porém daquele dia e hora, ninguém o sabe, nem os anjos do céu, a não ser meu Pai somente.
37. E como [foram] os dias de Noé, assim será também a vinda do Filho do homem.
38. Porque como nos dias antes do dilúvio andavam comendo, e bebendo, casando, e dando em casamento, até o dia em que Noé entrou na arca;
39. E não o conheceram, até que veio o dilúvio, e os levou a todos; assim será também a vinda do Filho do homem.
40. Então estarão dois no campo, o um será tomado, e o outro será deixado.
41. Duas estarão moendo em [um] moinho, a uma será tomada, e a outra será deixada.
42. Vigiai pois, porque não sabeis a que hora há de vir vosso Senhor.
43. Porém isto sabei, que se o chefe de casa soubesse a que vela da noite o ladrão havia de vir, vigiaria, e não deixaria invadir sua casa.
44. Portanto também vós estai prontos, porque o Filho do homem há de vir à hora que não pensais.
45. Quem pois é o servo fiel e prudente, ao qual seu Senhor pôs sobre seus trabalhadores, para [lhes] dar alimento a seu tempo?
46. Bem-aventurado aquele servo, ao qual, quando seu Senhor vier, [o] achar fazendo assim.
47. Em verdade vos digo, que sobre todos seus bens o porá.
48. Porém se aquele servo mau disser em seu coração:
 Meu Senhor tarda em vir;
49. E começar a espancar [seus] colegas servos, e a comer, e a beber com os beberrões,
50. Virá o Senhor daquele servo, ao dia que não espera, e à hora que não sabe.
51. E o separará, e porá sua parte com os hipócritas; ali será o pranto, e o ranger de dentes.

Capítulo 25

1. Então Reino dos céus será semelhante a dez virgens, que tomando suas lâmpadas, saíram ao encontro ao esposo.
2. E cinco delas eram prudentes, e cinco tolas.
3. As que [eram] tolas, tomando suas lâmpadas, não tomaram azeite consigo.
4. Mas as prudentes tomaram azeite em seus vasos, com suas lâmpadas.
5. E tardando o esposo, todas cochilaram e se adormeceram.
6. E à meia-noite se fez um clamor, [que dizia]:
 Eis que vem o esposo; saí-lhe ao encontro.
7. Então todas aquelas virgens se levantaram, e prepararam suas lâmpadas.
8. E as tolas disseram às prudentes:
 Dai-nos do vosso azeite, porque as nossas lâmpadas se apagam.
9. Mas as prudentes responderam, dizendo:
 [Não], para que não venha a faltar a nós e a vós; em vez disso, ide aos que vendem, e comprai para vós.
10. E idas elas para comprar, veio o esposo; e as que [estavam] preparadas, entraram com ele ao casamento, e fechou-se a porta.
11. E depois vieram também as outras virgens, dizendo:
 Senhor, Senhor, abre-nos!
12. E respondendo ele, disse:
 Em verdade vos digo, que não vos conheço.
13. Vigiai pois, porque não sabeis o dia, nem a hora, em que o Filho do homem há de vir.
14. Porque [é] como um homem, que partindo-se para fora da terra, chamou a seus servos, e entregou-lhes seus bens.
15. E a um deu cinco talentos, e a outro dois, e ao terceiro um, a cada um conforme a sua habilidade, e partiu-se logo para longe.
16. E partido ele, o que tinha recebido cinco talentos, negociou com eles, e obteve outros cinco talentos.
17. Semelhantemente também, o que [tinha recebido] dois, obteve também outros dois.
18. Mas o que tinha recebido um, foi, e enterrou-o no chão, e escondeu o dinheiro de seu Senhor.
19. E depois de muito tempo veio o senhor daqueles servos, e fez contas com eles.
20. E chegando o que tinha recebido cinco talentos, trouxe-lhe outros cinco talentos, dizendo: Senhor, cinco talentos me entregaste, eis aqui outros cinco talentos tenho obtido com eles.
21. E seu senhor lhe disse:
 [Muito] bem, servo bom e fiel; sobre pouco foste fiel, sobre muito te porei; entra no agrado de teu senhor.
22. E chegando-se também o que tinha recebido dois talentos, disse:
 Senhor, dois talentos me entregaste, eis aqui outros dois talentos tenho obtido com eles.
23. Seu senhor lhe disse:
 [Muito] bem, servo bom e fiel; sobre pouco foste fiel, sobre muito te porei; entra no agrado de teu senhor.
24. Porém chegando também o que tinha recebido um talento, disse:
 Senhor, eu te conhecia, que és homem duro, que ceifas aonde não semeaste, e juntas onde não espalhaste;
25. E atemorizado, fui, e escondi teu talento na terra; eis aqui tens o teu.
26. Porém respondendo seu senhor, disse-lhe:
 Servo maligno e negligente, sabias que ceifo aonde não semeei, e junto onde não espalhei.
27. Portanto te convinha dar meu dinheiro aos cambistas, e vindo eu, receberia o meu com juros.
28. Tirai-lhe pois o talento, e dai-o ao que tem os dez talentos
29. Porque a qualquer que tiver, lhe será dado, e terá em abundância; porém ao que não tiver, até o que tem lhe será tirado.
30. E lançai ao servo inútil às trevas exteriores; ali será o pranto, e o ranger de dentes.
31. E quando o Filho do homem vier em sua glória, e todos os santos anjos com ele, então se sentará sobre o trono de sua glória.
32. E serão juntas diante dele todas as nações, e os separará uns dos outros, tal como o pastor separa as ovelhas dos bodes.
33. E porá as ovelhas à sua direita, porém os bodes à [sua] esquerda.
34. Então dirá o rei aos que [estiverem] à sua direita:
 Vinde, benditos de meu Pai, possuí por herança o Reino, que vos está preparado desde a fundação do mundo.
35. Porque tive fome, e me destes de comer; tive sede, e me destes de beber; fui estrangeiro, e me recolhestes;
36. [Estive] nu, e me vestistes; [estive] enfermo, e me visitastes; estive na prisão, e viestes a mim.
37. Então os justos lhe responderão, dizendo:
 Senhor, quando te vimos com fome, e [te] alimentamos? Ou sedento, e [te] demos de beber?
38. E quando te vimos estrangeiro, e [te] recolhemos? Ou nu, e te vestimos?
39. E quando te vimos enfermo, ou na prisão, e viemos a ti?
40. E respondendo o Rei, dir-lhes-á:
 Em verdade vos digo, que enquanto [o] fizestes a um destes de meus mínimos irmãos, a mim [o] fizestes.
41. Então dirá também aos que [estiverem à] esquerda:
 Apartai-vos de mim, malditos, ao fogo eterno, preparado para o Diabo e seus anjos.
42. Porque tive fome, e não me destes de comer; tive sede, e não me destes de beber.
43. Fui estrangeiro, e não me recolhestes; nu, e não me vestistes; enfermo, e na prisão, e não me visitastes.
44. Então também eles lhe responderão, dizendo:
 Senhor, quando te vimos com fome, ou com sede, ou estrangeiro, ou nu, ou enfermo, ou na prisão, e não te servimos?
45. Então lhes responderá, dizendo:
 Em verdade vos digo, que enquanto a um destes mínimos não [o] fizestes, [também] a mim não [o] fizestes.
46. E irão estes ao tormento eterno, porém os justos à vida eterna.

Capítulo 26

1. E aconteceu que, quando Jesus tinha acabado todas estas palavras, disse a seus discípulos:
2. Vós bem sabeis que daqui a dois dias é a Páscoa, e o Filho do homem será entregue para ser crucificado.
3. Então os príncipes dos sacerdotes, e os escribas, e os anciãos do povo se reuniram na sala do sumo sacerdote, o qual se chamava Caifás.
4. E consultaram juntamente, para prenderem a Jesus com engano, e [o] matarem.
5. Porém diziam:
 Não na festa, para que não haja tumulto entre o povo.
6. E estando Jesus em Betânia, em casa de Simão o leproso,
7. Veio a ele uma mulher com um vaso de alabastro, de óleo perfumado de grande preço, e derramou sobre cabeça dele, estando sentado [à mesa].
8. E seus discípulos, ao verem, indignaram-se, dizendo:
 Para que [serve] este desperdício?
9. Porque este óleo perfumado podia ter sido vendido por muito, e o dinheiro dado aos pobres.
10. Porém Jesus, sabendo [disso], disse-lhes:
 Por que perturbais a esta mulher? Pois ela me fez uma boa obra.
11. Pois vós sempre tendes aos pobres convosco, porém nem sempre tereis a mim.
12. Pois ela, ao derramar este óleo perfumado sobre meu corpo, ela o fez para [preparar] o meu sepultamento.
13. Em verdade vos digo que onde quer que este Evangelho em todo o mundo for pregado, também o que esta fez será dito para sua memória.
14. Então um dos doze, chamado Judas Iscariotes, foi aos chefes dos sacerdotes,
15. E disse:
 O que quereis me dar, para que eu o entregue a vós?
E eles lhe determinaram trinta [moedas] de prata;
16. E desde então buscava oportunidade para o entregar.
17. E ao primeiro [dia da festa] dos [pães] sem fermento, vieram os discípulos a Jesus, dizendo-lhe: Onde queres que te preparemos, para comer a Páscoa?
18. E ele disse:
 Ide à cidade um tal, e dizei-lhe:
 O Mestre diz:
 Meu tempo está perto; contigo farei a Páscoa com meus discípulos.
19. E os discípulos fizeram como Jesus lhes mandara, e prepararam a Páscoa.
20. E vinda a tarde, sentou-se [à mesa] com os doze.
21. E comendo eles, disse:
 Em verdade vos digo, que um de vós me trairá.
22. E eles, entristecendo-se em grande maneira, cada um deles começou a lhe dizer:
 Por acaso sou eu, Senhor?
23. E respondendo ele, disse:
 O que comigo mete a mão no prato, esse me trairá.
24. Em verdade o Filho do homem vai, como dele escrito está; mas ai daquele homem, por quem o Filho do homem é traído; bom lhe fora ao tal homem, se não houvesse nascido.
25. E respondendo Judas, o que o traía, disse:
 Por acaso sou eu, Rabi?
Ele lhe disse:
 Tu o disseste.
26. E enquanto eles comiam, Jesus tomou o pão, e bendizendo partiu-o; e o deu aos discípulos, e disse:
 Tomai, comei, isto é o meu corpo.
27. E tomando o copo, e dando graças, deu-o a eles, dizendo:
 Bebei dele todos,
28. Porque isto é o meu sangue, o [sangue] do novo Testamento, o qual é derramado por muitos, para remissão dos pecados.
29. E digo-vos, que desde agora não beberei [mais] deste fruto da vide, até aquele dia, quando convosco o beber novo no reino de meu Pai.
30. E havendo cantado um hino, saíram para o monte das Oliveiras.
31. Então Jesus lhes disse:
 Todos vós vos ofendereis em mim esta noite; porque escrito está:
 Ferirei ao pastor, e as ovelhas do rebanho serão dispersas.
32. Mas depois de eu haver ressuscitado, irei adiante de vós para a Galileia.
33. Porém respondendo Pedro, disse-lhe:
 Ainda que todos em ti se ofendam, eu nunca me ofenderei.
34. Disse-lhe Jesus:
 Em verdade te digo, que nesta mesma noite, antes que o galo cante, me negarás três vezes.
35. Disse-lhe Pedro:
 Ainda que me seja necessário contigo morrer, em maneira nenhuma te negarei. E todos os discípulos disseram o mesmo.
36. Então veio Jesus com eles a um lugar, chamado Getsêmani, e disse aos discípulos:
 Sentai-vos aqui, até que eu vá, e ali ore.
37. E tomando consigo a Pedro, e aos dois filhos de Zebedeu, começou-se a entristecer, e a angustiar em grande maneira.
38. Então lhes disse:
 Minha alma está totalmente triste até a morte; ficai aqui, e vigiai comigo.
39. E indo um pouco mais adiante, prostrou-se sobre seu rosto, orando, e dizendo:
 Pai meu, se é possível, passe de mim este copo; porém, não [seja] como eu quero, mas como tu [queres].
40. E veio a seus discípulos, e achou-os dormindo, e disse a Pedro:
 Então que nem uma hora comigo pudestes vigiar?
41. Vigiai, e orai, para que não entreis em tentação; o espírito em verdade [está] pronto, mas a carne [é] fraca.
42. [E] voltando [pela] segunda vez, orou, dizendo:
 Pai meu, se não pode este copo passar de mim, sem que eu o beba, faça-se a tua vontade.
43. E vindo [a eles], achou-os outra vez dormindo, porque seus olhos estavam pesados.
44. E deixando-os, voltou e orou [pela] terceira vez, dizendo as mesmas palavras.
45. Então veio a seus discípulos, e disse-lhes:
 Dormi já e descansai; eis que chegada é a hora, e o Filho do homem é entregue em mãos de pecadores.
46. Levantai-vos, vamos, eis que chegado é o que me trai.
47. E falando ele ainda, eis que vem Judas, um dos doze, e com ele uma grande multidão, com espadas e bastões, [da parte] dos príncipes dos sacerdotes, e dos anciãos do povo.
48. E o que o traia, lhes tinha dado sinal, dizendo:
 Ao que eu beijar, esse é, prendei-o.
49. E logo chegando a Jesus, disse:
 Alegra-te, Rabi!
e o beijou.
50. Porém Jesus lhe disse:
 Amigo, para que vens aqui?
Então chegaram, e lançaram mão de Jesus, e o prenderam.
51. E eis que um dos que [estavam] com Jesus, estendendo a mão, puxou de sua espada, e ferindo ao servo do sumo sacerdote, cortou-lhe uma orelha.
52. Então Jesus lhe disse:
 Volta tua espada a seu lugar; porque todos os que tomarem espada, à espada perecerão.
53. Ou pensas tu, que não possa eu agora orar a meu Pai, e ele me daria mais de doze legiões de anjos?
54. Como pois se cumpririam as Escrituras, [que dizem], que assim convém que se faça?
55. Naquela mesma hora disse Jesus às multidões:
 Como a ladrão saístes com espadas e bastões para me prender; todo dia me sentava convosco, ensinando no Templo, e não me prendestes.
56. Mas tudo isto se fez, para que as Escrituras dos Profetas se cumpram. Então todos os discípulos fugiram, deixando a ele.
57. E os que prenderam a Jesus, trouxeram[-lhe] a Caifás, o sumo sacerdote, onde os escribas e os anciãos estavam reunidos.
58. E Pedro o seguia de longe, até a sala do sumo sacerdote; e entrando dentro, sentou-se com os servos, para ver o fim.
59. E os chefes dos sacerdotes, e os anciãos, e todo o conselho, buscavam [algum] falso testemunho contra Jesus, para poderem matá-lo, e não achavam.
60. E ainda que muitas falsas testemunhas se apresentavam, [contudo] não achavam.
61. Mas por fim vieram duas falsas testemunhas, e disseram:
 Este disse:
 Eu posso derrubar o Templo de Deus, e edificá-lo em três dias.
62. E levantando-se o sumo sacerdote, disse-lhe:
 Não respondes nada? O que estes testemunham contra ti?
63. Porém Jesus ficava calado. E respondendo o sumo sacerdote, disse-lhe:
 Ordeno-te pelo Deus vivente, que nos digas se tu és o Cristo, o Filho de Deus.
64. Jesus lhe disse:
 Tu o disseste. Porém eu vos digo que, desde agora, vereis ao Filho do homem, sentado à direita do poder [de Deus], e vindo nas nuvens do céu.
65. Então o sumo sacerdote rasgou suas roupas, dizendo:
 Blasfemou, [para] que mais necessitamos de testemunhas? Eis que agora ouvistes sua blasfêmia.
66. Que vos parece?
E respondendo eles, disseram:
 Culpado é de morte.
67. Então lhe cuspiram no rosto, e lhe deram socos.
68. E outros lhe davam de bofetadas, dizendo:
 Profetiza-nos, ó Cristo, quem é o que te feriu?
69. E Pedro estava sentado fora na sala; e chegou-se a ele uma serva, dizendo:
 Também tu estavas com Jesus o galileu.
70. Mas ele o negou diante de todos, dizendo:
 Não sei o que dizes.
71. E tendo ele saído à anteporta, outra o viu, e disse aos que ali [estavam]:
 Também este estava com Jesus o nazareno.
72. E ele o negou outra vez com juramento, [dizendo]:
 Não conheço a [esse] homem.
73. E pouco depois, chegando os que ali estavam, disseram a Pedro:
 Verdadeiramente também tu és um deles, porque tua fala te revela.
74. Então começou ele a amaldiçoar, e a jurar, [dizendo]:
 Não conheço a [esse] homem!
75. E logo o galo cantou. E lembrou-se Pedro da palavra de Jesus, que lhe dissera:
 Antes que o galo cante, me negarás três vezes.
E indo para fora [dali], chorou amargamente.

Capítulo 27

1. E vinda a manhã, juntamente tomaram conselho todos os chefes dos sacerdotes, e anciãos do povo, contra Jesus, para o matarem.
2. E o levaram amarrado, e o entregaram a Pôncio Pilatos, o governador.
3. Então Judas, o que o havia traído, vendo que já estava condenado, voltou, arrependido, as trinta [moedas] de prata aos chefes dos sacerdotes, e aos anciãos;
4. Dizendo:
 Pequei, traindo o sangue inocente.
Porém eles disseram:
 Que [interessa isso] a nós? Vê-o tu.
5. E lançando ele as [moedas] de prata no Templo, partiu-se, e foi, e enforcou-se.
6. E os chefes dos sacerdotes, tomando as [moedas] de prata, disseram:
 Não é lícito pô-las na arca das ofertas, porquanto preço de sangue é.
7. E tomando conselho juntamente, compraram com elas o campo do Oleiro, para sepultura dos estrangeiros.
8. Pelo que aquele campo foi chamado campo de sangue, até o dia de hoje.
9. Então se cumpriu o que foi dito pelo profeta Jeremias, que disse:
 E tomaram as trinta [moedas] de prata, preço avaliado pelos filhos de Israel, ao qual eles avaliaram.
10. E as deram pelo campo do Oleiro, segundo o que me mandou o Senhor.
11. E Jesus esteve diante do governador, e o governador perguntou-lhe, dizendo:
 És tu o Rei dos Judeus? e Jesus lhe disse: Tu [o] dizes.
12. E sendo acusado pelos chefes dos sacerdotes e os anciãos, nada respondeu.
13. Pilatos então lhe disse:
 Não ouves quantas [coisas] testemunham contra ti?
14. E não lhe respondeu nem uma só palavra, de maneira que o governador se maravilhava muito.
15. E na festa costumava o governador soltar um preso ao povo, qualquer que quisessem.
16. E tinham então um preso bem conhecido, chamado Barrabás.
17. Juntos pois eles, disse-lhes Pilatos:
 Qual quereis que vos solte? A Barrabás, ou a Jesus, que é chamado Cristo?
18. Porque sabia que por inveja o entregaram.
19. E estando ele sentado no tribunal, sua mulher enviou a ele, dizendo:
 Nada [faças] tu com aquele justo; porque hoje sofri muitas coisas em sonhos por causa dele.
20. Mas os chefes dos sacerdotes e os anciãos persuadiram às multidões que pedissem a Barrabás, e a Jesus matassem.
21. E respondendo o governador, disse-lhes:
 Qual destes dois quereis que vos solte?
E eles disseram:
 A Barrabás.
22. Pilatos lhes disse:
 Que pois farei [de] Jesus, que é chamado Cristo?
Disseram-lhe todos:
 Seja crucificado.
23. Porém o governador disse:
 Pois que mal tem feito?
E eles clamavam mais, dizendo:
 Seja crucificado!
24. Vendo pois Pilatos que nada aproveitava, antes se fazia mais tumulto, tomando água, lavou as mãos diante da multidão, dizendo:
 Inocente estou do sangue deste justo; vede-o vós.
25. E respondendo todo o povo, disse:
 Seu sangue [venha] sobre nós, e sobre nossos filhos.
26. Então soltou-lhes a Barrabás; porém havendo açoitado a Jesus, o entregou para ser crucificado.
27. Então os soldados do governador, levando a Jesus consigo ao salão do pretório, reuniram-se a ele toda a agrupamento de soldados.
28. E despindo-o, cobriram-no com uma capa vermelha.
29. E tecendo uma coroa de espinhos, puseram-na sobre a sua cabeça, e uma cana em sua [mão] direita, e pondo-se de joelhos diante dele, zombavam dele, dizendo:
 Tenhas alegria, Rei dos Judeus!
30. E cuspindo nele, tomaram a cana, e davam-lhe [com ela] na cabeça.
31. E depois que o haviam escarnecido, despiram-lhe a capa, e o vestiram com suas roupas, e o levaram para crucificar.
32. E saindo, acharam a um homem de Cirene, por nome Simão; a este obrigaram para que levasse sua cruz.
33. E chegando ao lugar chamado Gólgota, que se diz o lugar da Caveira,
34. Deram-lhe a beber vinagre misturado com fel; e experimentando[-o], não [o] quis beber.
35. E havendo-o crucificado, repartiram suas roupas, lançando sortes; para que se cumprisse o que foi dito pelo profeta:
 Repartiram entre si minhas roupas, e sobre minha túnica lançaram sortes.
36. E tendo se sentando, vigiavam-no ali.
37. E puseram por cima de sua cabeça, sua causa escrita: ESTE É JESUS, O REI DOS JUDEUS.
38. Então foram crucificados com ele dois ladrões, um à direita, e outro à esquerda.
39. E os que passavam, blasfemavam dele, balançando suas cabeças;
40. E dizendo:
 Tu, que derrubas o Templo, e em três dias [o] reedificas, salva a ti mesmo! Se és Filho de Deus, desce da cruz.
41. E da mesma maneira também os chefes dos sacerdotes, com os escribas, e anciãos, escarnecendo [dele], diziam:
42. A outros salvou, a si mesmo não pode salvar. Se é Rei de Israel, desça agora da cruz, e creremos nele.
43. Confiou em Deus, livre-o agora, se [bem] lhe quer; porque disse:
 Filho de Deus sou.
44. E também lhe insultavam os ladrões que com ele estavam crucificados.
45. E desde a hora sexta, houve trevas sobre toda a terra até a hora nona.
46. E perto da hora nona clamou Jesus com grande voz, dizendo:
 ELI, ELI, LAMÁ SABACTÂNI;
Isto é:
 Deus meu, Deus meu, porque me desamparaste?
47. E alguns dos que ali estavam, ouvindo[-o], diziam: Este chama a Elias.
48. E logo correndo um deles, tomou uma espada, e enchendo[-a] de vinagre, pô-la em uma cana, e dava-lhe de beber.
49. Porém os outros diziam:
 Deixa, vejamos se Elias vem para livrá-lo.
50. E Jesus clamando outra vez com grande voz, deu o espírito.
51. E eis que o véu do Templo se rasgou em dois, de cima até baixo, e a terra tremeu, e as pedras se fenderam.
52. E os sepulcros se abriram, e muitos corpos de santos, que dormiram, foram ressuscitados.
53. E saídos dos sepulcros, depois de sua ressurreição, vieram à santa cidade, e apareceram a muitos.
54. E o centurião, e os que com ele vigiavam a Jesus, vendo o terremoto, e as coisas que haviam sucedido, temeram em grande maneira, dizendo:
 Verdadeiramente Filho de Deus era este.
55. E estavam ali muitas mulheres olhando de longe, as quais desde a Galileia haviam seguido a Jesus, servindo-o.
56. Entre as quais estava Maria Madalena, e Maria mãe de Tiago e de José, e a mãe dos filhos de Zebedeu.
57. E vinda já a tarde, veio um homem rico de Arimateia, por nome José, o qual também era discípulo de Jesus.
58. Este chegou a Pilatos, e pediu o corpo de Jesus. Então Pilatos mandou que o corpo [se lhe] desse.
59. E tomando José o corpo, embrulhou-o em um lençol limpo fino,
60. E o pôs em seu sepulcro novo, que tinha lavrado em uma rocha; e revolvendo uma grande pedra à porta do sepulcro, foi embora.
61. E estava ali Maria Madalena, e a outra Maria, sentadas de frente ao sepulcro.
62. E no dia seguinte, que é depois da preparação, reuniram-se os chefes dos sacerdotes, e os fariseus a Pilatos,
63. Dizendo:
 Senhor, nos lembramos que aquele enganador, enquanto ainda vivia, disse:
 Depois de três dias serei ressuscitado.
64. Manda pois que o sepulcro esteja em segurança até o dia terceiro, para que não aconteça de seus discípulos virem de noite, e o furtem, e digam ao povo [que] ele ressuscitou dos mortos; e [assim] o último engano será pior que o primeiro.
65. E Pilatos lhes disse:
 Vós tendes a guarda; ide, fazei segurança como o entendeis.
66. E eles, tendo ido, fizeram segurança no sepulcro com a guarda, selando a pedra.

Capítulo 28

1. E no fim do Sábado, quando já começava a clarear para o primeiro dia da semana, veio Maria Madalena, e a outra Maria, para ver o sepulcro.
2. E eis que se fez um grande terremoto; porque um anjo do Senhor descendo do céu, chegou, e moveu a pedra da porta, e estava sentado sobre ela.
3. E seu aspecto era como um relâmpago, e sua roupa branca como neve.
4. E de medo dele ficaram os guardas muito estremecidos, e tornaram-se como mortos.
5. Porém respondendo o Anjo, disse às mulheres:
 Não temais vós, porque eu sei que buscais a Jesus, o que foi crucificado.
6. Ele não está aqui, porque já ressuscitou, como disse; vinde, vede o lugar onde jazia o Senhor.
7. E ide logo, dizei a seus discípulos que ele já ressuscitou dos mortos; e eis que ele vai adiante de vós para a Galileia; ali o vereis. Eis que tenho vos dito.
8. E saindo elas apressadamente do sepulcro, com temor e grande alegria, correram para anunciá-lo a seus discípulos.
9. E indo elas para anunciá-lo a seus discípulos, eis que Jesus lhes sai ao encontro, dizendo:
 Tenhais alegria. E chegando elas, pegaram de seus pés, e o adoraram.
10. Então Jesus lhes disse:
 Não temais. Ide, anunciai a meus irmãos, [para] que vão à Galileia, e lá me verão.
11. E indo elas, eis que uns da guarda vieram à cidade, e anunciaram aos chefes dos sacerdotes todas as coisas que tinham acontecido.
12. E reunidos eles com os anciãos, e tomando conselho entre si, deram muito dinheiro aos soldados,
13. Dizendo:
 Dizei:
 Seus discípulos vieram de noite, e o furtaram enquanto nós estávamos dormindo.
14. E se isto vier a ser ouvido pelo governador, nós o persuadiremos, e vos faremos seguros.
15. E eles, tomando o dinheiro, fizeram como estavam instruídos. E foi este dito divulgado entre os judeus até o dia de hoje.
16. E os onze discípulos se foram para a Galileia, ao monte onde Jesus tinha lhes ordenado.
17. E quando o viram, o adoraram; porém alguns duvidavam.
18. E chegando Jesus a eles, falou-lhes, dizendo:
 Todo poder me é dado no céu e na terra.
19. Portanto ide, ensinai a todas as nações, batizando-as em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-lhes a guardarem todas as coisas que eu vos tenho mandado.
20. E eis que eu estou convosco todos os dias, até a consumação dos tempos.
Amém.



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